tag:blogger.com,1999:blog-84443768377636409512024-03-08T07:01:15.936-03:00ENTENDA NIETZSCHEESTE É UM ESPAÇO PARA SE DISCUTIR AS IDÉIAS, MÚSICAS
E POESIAS DE UM PENSADOR QUE AINDA NA ATUALIDADE
É UMA METRALHADORA GIRATÓRIA DA FILOSOFIA MUNDIALJOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.comBlogger33125tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-82452724823929310112007-12-15T18:51:00.000-02:002007-12-15T18:53:33.507-02:00A Problematicidade de Deus em Nietzsche<div align="justify"><em><span style="color:#ff99ff;">“Já ouviu falar daquele louco que acendeu uma lanterna numa manhã clara, correu para a praça do mercado e pôs-se a gritar incessantemente: “Eu procuro Deus! Eu procuro Deus!". Como muito dos que não acreditam em Deus estivessem justamente por ali naquele instante, ele provocou muita risadas... “Onde está Deus!”, ele gritava. “Eu devo dizer-lhes: nós o matamos – você e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus continua morto. E nós o matamos...”</span></em><br /><br />- (Friedrich Nietzsche, Gaia Ciência (1882), parte 125.)<br /><br /><br />Nietzsche, em seu filosofar, não pode ser identificado como um filósofo portador de um discurso periculoso e trágico. Pelo contrário, essa suposta carga negativista e pessimista que se verifica nos seus escritos, ressoam, em quase todas as suas abordagens, como um manifesto de reivindicação e de superação da condição existencial humana. Em Assim falou Zaratustra, Nietzsche destaca a necessidade do anúncio do super-homem. Nele, Zaratustra, seu personagem principal, proclama a falência da civilização e a aurora de uma nova era. É o anúncio de que o homem deve superar a si mesmo, à sua potencialidade negada. Procurando sacudir o velho homem, que vivia enclausurado no seu pessimismo e ilusão, o novo pretende ser substituto daquele. O superar típico do super-homem, entendido como ato de abertura para o nada ou para o sagrado, nada mais é do que a própria vontade de poder. O super-homem como superação implica a dimensão do divino, que, segundo Nietzsche, seria um “ponto” na vontade de poder. Sendo assim, o divino não é uma coisa separada do homem, tampouco uma realidade para fora de si e que tem poder de manipulação, mas o divino e o humano se encontram no ato contínuo e ininterrupto de superação do objeto conhecido e, por conseguinte, na consciência do não-poder em relação ao não-objeto, isto é, ao nada (Penzo, 1999). <br /><br />Desta forma, é revertida a concepção metafísica do conhecer como esperança e a de Deus como causa última de segurança. Para Nietzsche, a segurança na raiz metafísica leva o homem a experiênciar a convicção e a segurança, levando-o a ver Deus como objeto último de sua esperança, donde provêm a sua fé e a sua verdade absolutizada. Nessa linha, seria catastrófico para o homem, sedimentado em terreno metafísico, ouvir a proclamação da morte de Deus, pois ela acentua a natureza do medo e da dramaticidade existencial, visto que pensar na sua ausência assinalaria o declínio da esperança e o estabelecimento da incerteza. O anúncio da morte de Deus, portanto, não se trata de propagar idéias anti-teístas. Não pretende ser a disseminação do ateísmo. Mas em erigir um novo conceito sobre o homem e sobre Deus. A morte de Deus, para Nietzsche, representa o fim e o declínio da formulação do Deus que a metafísica clássica ocidental construiu: o de ser absoluto e supremo. Quer dizer que a idéia do Deus do cristianismo deveria morrer na consciência do ser humano enquanto mantenedor do sistema tradicional de valores. Como resultado disso, alguém deveria ocupar o seu lugar – o próprio homem. <br /><br />No passado, o ser humano obedecia irrestritamente ao “farás” e “não farás”, da parte de Deus ou dos códigos doutrinais rigidamente patrocinados e construídos pela religião burocratizada. Para Nietzsche, esse ditos e sentenças estavam com os dias contados. Uma nova ordem de valores estava para ser estabelecida. O homem não mais podia se inclinar aos mandamentos divinos. Mas deveria ele mesmo conduzir os seus próprios desígnios. Somente ele é que poderá fazer as suas escolhas. E, acima de tudo, optar por uma delas, sejam elas boas ou más. É o que Nietzsche emblematicamente denomina de: “a transvalorização de todos os valores”. Os valores antigos e tradicionais caducaram. Esse arcaicos valores devem ceder espaço para o surgimento de novos valores. Não mais centrados em afirmações religiosas ou metafísicas. Mas redigidas e assinadas pelo próprio homem. Porém não é qualquer homem. Tem de ser um homem superior. Não o que prometa felicidade e gozo na transcendentalidade, mas concretamente, existencialmente. Este homem superior, portanto, é o Ubermensch, literalmente homem superior, passando a ser denominado também de super-homem. Entretanto, esse super-homem não tem qualquer conexão com o herói em quadrinhos.<br /><br />Nas reflexões de Nietzsche, este homem superior era proveniente do desenvolvimento da humanidade num sentido darwinista. Ele aceitava as idéias de Darwin no que tange ao processo seletivo e natural da vida, no qual as espécies mais fracas são aniquiladas e as mais fortes sobrevivem para produzir espécies mais fortes ainda.<br /><br />A teoria evolucionária de Darwin fundamenta e alimenta os pressupostos nietzschianos, sobretudo em relação ao homem superior. Porém, ele não pensou apenas numa nova raça desenvolvida nos níveis educacional ou espiritual que partisse do inferior para o superior. Ele tomou a idéia de Darwin literalmente. Pensava que o homem superior haveria de ser fisicamente mais forte. Deveria ter poder no soma [corpo] e na psique [alma]. Metaforicamente, deveria ser uma espécie de “besta-fera”, um centauro [metade gente, metade animal], bastante desenvolvido intelectualmente, não irracional, mas poderoso, representando, assim, uma nova formatação existencial completamente acima e superior do homem europeu massificado. O homem massificado evita a qualquer custo a controvérsia. É conformista, indiferentista e não têm preocupações supremas, acha a vida aborrecida e é cínico e vazio. É o que chama de niilismo (ex nihilo), para o qual a nossa cultura se dirige (Tillich). A bem da verdade, ao anunciar o super-homem como superação de si mesmo, Nietzsche sublinha e apresenta, em Assim falou Zaratustra, uma nova transcendência filosófica, pautada no nível existencial, na qual se abre o horizonte “nadificado” entendido positivamente, que se resolve como o horizonte do sagrado. <br /><br />Assim, em seu pensamento sobre o sagrado, Nietzsche observa que a morte de Deus é um acontecimento cultural, existencial e extremamente necessário para purificar a face de Deus e, por conseqüência, a própria fé em Deus. Deste modo, Nietzsche não mata Deus. Mas limita-se a constatar a ausência do divino na cultura do seu tempo, acusando, pelo contrário, por essa ausência e morte, a teologia metafísica. Com base na rejeição da tese da fé-segurança, que a priori funda-se numa certeza típica da ciência, Nietzsche também crítica o espírito que levará a secularização inautêntica ou ao secularismo do cristianismo.<br /><br />Logo, matar a Deus significa, noutras palavras, matar o “dogma”, o “conformismo”, a “superstição” e o “medo”, é não aceitar mais a imposição de regras cristalizadas, que impossibilitam a superação e a transcendência, além da auto-afirmação do ser humano, que luta incansavelmente para libertar-se elevar-se em sua saga existencializada.<br /><br /><strong><span style="color:#cc66cc;">Referências Bibliográficas<br /></span></strong><br />COPLESTON, Frederick S. J. Nietzsche: filósofo da cultura. Coleção Filosofia e Religião, Porto, Portugal, Livraria Tavares e Martins, 1953. <br /><br />MARTON, Scarlett. Nietzsche. 4ª ed., In: Coleção Encanto Radical, São Paulo, Brasiliense, 1986.<br /><br />PENZO, Giorgio. O divino como problematicidade. In: Deus na filosofia do século XX, São Paulo, Loyola, 1999.<br /><br />TILLICH, Paul. Perspectivas da teologia protestante nos séculos XIX e XX. Trad. Jaci Maraschin, 2ª ed., São Paulo, ASTE, 1999.<br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[http://www.geocities.com/Athens/4539/deusestamorto.htm]</span></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-42281944917246109462007-12-15T18:36:00.000-02:002007-12-15T18:47:13.431-02:00NIETZSCHE (1844 - 1900)<p align="justify"><em><span style="color:#ff9900;">“Todo trabalho importante – deves ter sentido em ti mesmo – exerce uma influência moral. O esforço para concentrar uma determinada matéria e dar-lhe uma forma harmoniosa, eu o comparo a uma pedra atirada em nossa vida interior: o primeiro círculo é estreito, mas amplos se destacam”. (Carta de Nietzsche a Deussen.)</span></em><br /><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>VIDA e OBRA</strong></span><br /><br />O século XX inaugura-se com morte de F. Nietzsche, que se revela como o seu pensador mais significativo. Sua vida é breve e solitária, embora mantenha sempre vivo um laço de afeto com a mãe e a irmã Elisabeth. Mesmo em sua solidão, ele se mantém em constante contato epistolar com alguns fiéis amigos e amigas.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1844</span></strong> - Friedrich Wilhel Nietzsche, nasce em Rócken, na Prússia, no dia 15 de outubro. Seu pai e seus avós eram pastores protestante. Nietzsche pensou em seguir a mesma carreira.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1849</span></strong> - Morre seu pai e seu irmão, em decorrência disso, sua mãe mudou-se com a família para Namburg.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1858</span></strong> - Obtém uma bolsa de estudos, ingressando no Colégio Real de Pforta, local onde havia estudado o poeta Novales e o filósofo Fichte. Influenciado por alguns filósofos e professores, Nietzsche progressivamente começa a afastar-se do cristianismo. Exímio aluno em grego e nos estudos bíblicos além do alemão e latim, inclinou-se à leitura dos clássicos de Platão e Ésquilo.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1864</span></strong> - Inicia a carreira acadêmica na Universidade de Bonn, on’de se dedicou aos estudos de filosofia e teologia, mas tarde acaba por abandonar a teologia.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1865</span></strong> - Transfere-se para a Universidade de Leipziz onde sob a influência de seu professor Ritschl, eminente helenista, passa então a dedicar-se exaustivamente ao estudo da filologia clássica. Seguindo as pegadas de seu mestre, se debruçou na investigação de obras clássicas tais como: Homero, Diógenes Laércio (séc. II), Hesíodo (séc. VIII aC.). Nesta época entra em contato com as obras de Arthur Schopenhauer. <br /> <br /><strong><span style="color:#ff0000;">1867</span></strong> - Incorporado ao serviço militar sofre um acidente de montaria e é dispensado, voltando a se dedicar aos estudos em Leipziz, onde consegue o cargo precoce de professor de Filologia Clássica na Universidade de Leipziz. Ainda em Leipziz, conhece Richard Wagner onde a notável influência deste homen o faz a dedicar-se a música e poesia. Nesta mesma época apaixona-se por Cosima, filha de Liszt que vem a ser a musa inspiradora de sua obra posterior a "Sonhada Ariane".<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1869</span></strong> - É nomeado professor de Filologia Clássica na Universidade de Basiléia, na Suíça. Todas as manhãs, de segunda a sábado, a partir das sete horas, dava cursos sobre Ésquilo e sobre a poesia lírica grega. Para um público numeroso faz palestras “Sobre a Personalidade de Homero”, “Sócrates e a Tragédia” e “O Drama Musical Grego”. Redige “A Visão Dionisíaca do Mundo”, primeiro capítulo de um ensaio que pretendia escrever sobre a “Origem e Finalidade da Tragédia”<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1870</span></strong> - Devido a guerra entre Alemanha e França é convocado ao serviço militar como enfermeiro, permanecendo por pouco tempo, pois adoece ao contrair difteria e dessinteria. Retorna a Basiléia a fim de prosseguir em seus cursos.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1871</span></strong> - Acaba de redigir, O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, publicado em janeiro de 1872.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1872</span></strong> - Passa todo o ano imerso em ocupações: prepara os cursos para a Universidade, escreve e, de quando em quando, compõe. Redige, nessa época, um pequeno ensaio sobre “A Kusta de Homero” e dedica-se ao estudo dos filósofos pré-socráticos.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1873</span></strong> - Redige "A Filosofia na Época Trágica dos Gregos" e "Introdução Teorética sobre Verdade e Mentira no Sendito Extra-Moral". David Strauss, o devoto e o escritor. Primeiras crises de saúde.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1874</span></strong> - São editadas a Segunda Consideração Extemporânea: Da utilidade e Desvantagens da História para a Vida, e a Terceira: Schopenhauer educador.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1876</span></strong> - Aparece a Quarta Consideração Extemporânea: Richard Wagner em Bayreuth.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1878</span></strong> - Publica Humano, demasiado Humano.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1879</span></strong> - Apresenta carta de demissão junto à Universidade de Basiléia, doente abraça uma vida errante, volta à cátedra e escreve mais 2 apêndices a Humano, demasiado Humano: Miscelânea de Opiniões e Sentenças e O andarilho e sua Sombra.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1880</span></strong> - Nietzsche publica O Andarilho e sua sombra.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1881 </span></strong>- Publica Aurora - pensamentos sobre os preconceitos morais. Em Sils Maria, é atravessado pela visão do eterno retorno. Durante o verão reside em Hante, é nessa pequena aldeia de Silvaplana que durante um passeio, teve a intuição de O Eterno Retorno, redigido logo após. Em outubro de 1881 vai a Gênova, depois a Roma.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1882 </span></strong>- Aparece Gaia Ciência. Em abril, conheceu em Roma uma jovem russa chamada Lou Salomé. Sua presença de espírito e capacidade de escuta atraíram-no; seu ardor intelectual e desejo de vida seduziram-no. Aos trinta e sete anos, apaixonou-se. Embora o pedido de casamento tivesse sido recusado, uma afetuosa amizade nasceu entre eles. A família de Nietzsche interpôs-se: temia que uma ligação escandalosa viesse a macular sua reputação. Arrastado por sentimentos contraditórios, ele não sabia mais em quem confiar, rompendo com todos. Idéias de suicídio perseguiram-no; por três vezes, chegou a tomar uma quantidade abusiva de narcóticos. Retorna à Itália.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1883/5</span></strong> - De volta à Alemanha escreve: Assim falou Zaratustra: Um Livro Para Todos e Para Ninguém.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1886</span></strong> - Surge Para Além de Bem e Mal - prelúdio a uma filosofia do porvir. Escreve os prefácios ao primeiro e segundo volumes de Humano, demasiado Humano, O Nascimento da Tragédia, Aurora e A Gaia Ciência, assim como a quinta parte deste livro.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1887</span></strong> - Redige "O Niilismo Europeu" e publica Para a Genealogia da Moral - um escrito polêmico em adendo a Para Além de Bem e Mal como complemento e ilustração. Instala-se em casa de sua mãe, em Naumburgo. Após a morte dela a irmã leva-o para sua residência em Weimar e ali ficaram a viver os dois.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1888</span></strong> - Escreve O Caso Wagner, Crepúsculo dos Ídolos, O Anticristo, Ecce Homo e elabora Nietzsche contra Wagner e Ditirambos de Dioniso. Alguns de seus livros só foram editados depois de sua morte. Em vida financiou todas as suas obras. Neste período passa a escrever cartas estranhas aos amigos. Até então não havia sinal decisivo de loucura, tratava-se de uma doença orgânica do cérebro com caráter de paralisia, onde constatou-se a loucura psicológica.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1889</span></strong> - Em Turim, no auge da sua enfermidade, passa a assinar as suas cartas ora como Dionísio, ora como o crucificado. Sendo internado nesta época, numa clínica psiquiátrica em Basiléia, com o diagnóstico de paralisia progressiva, provavelmente de origem sifilítica. É transferido para Jena.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">1890</span></strong> - Deixa a clínica de Jena sob a tutela da família.<br /><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>1900</strong></span> - Morre a 25 de agosto em Weimar, vitimado por uma pneumonia. A irmã refere à hora do seu passamento, precedido duma grande trovoada, o que a fez supor que ele patiria deste mundo entre relâmpagos e trovões. “Assim partiu Zaratrusta”Nietzsche foi sepultado em Röchen, e Peter Gast seu dedicado amigo, pronunciou um curto elogio fúnebre ‘a beira assim como para o seu Autor, a quem ele havia negado.</p><p align="justify"> </p><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><p align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://existencialismo.sites.uol.com.br/nietzsche.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://existencialismo.sites.uol.com.br/nietzsche.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></p></blockquote></span>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-73313153238045530982007-12-15T18:25:00.000-02:002007-12-15T18:30:55.991-02:00POESIA DE NIETZSCHE<div align="center"><strong><span style="color:#ff6600;">Ninguém pode construir em teu lugar <br /> <br /><br />as pontes que precisarás passar, <br /> <br /><br />para atravessar o rio da vida <br /> <br /><br /> - ninguém, exceto tu, só tu. <br /> <br /><br />Existem, por certo, atalhos sem números,<br /> <br /><br />e pontes, e semideuses que se oferecerão <br /> <br /><br />para levar-te além do rio; <br /> <br /><br />mas isso te custaria a tua própria pessoa;<br /> <br /><br />tu te hipotecarias e te perderias. <br /> <br /><br />Existe no mundo um único caminho<br /> <br /><br />por onde só tu podes passar. <br /> <br /><br />Onde leva? Não perguntes, segue-o<br /></span></strong> </div><div align="center"><br /> </div><div align="center">- Nietzsche -</div><br /><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://www.encantosepaixoes.com.br/poesia1742.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://www.encantosepaixoes.com.br/poesia1742.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-67709648742178293722007-12-15T17:50:00.000-02:002007-12-15T17:55:12.508-02:00NIETZSCHE TRAÇOS BIO-BIBLIOGRÁFICOS<div align="justify"><strong><span style="color:#ff0000;">Friedrich Wilhelm Nietzsche</span></strong> (1844-1900) nasceu em Rocken, localidade próxima de Leipzig, Prússia, no dia 15 de outubro. Seu pai e seus avôs eram pastores protestantes. Nietzsche teve muito desse espírito religioso durante a infância, e cogitava continuar a linhagem. Sua mãe era piedosa e puritana. Em 1849 perdeu o pai e o irmão. Mudou-se então para Naumburg, cidade às margens do rio Saale, onde cresceu, em companhia feminina: a mãe, a irmã, duas tias e a avó. Era uma criança feliz, aluno exemplar, dócil e leal.<br /><br />O zelo e mimo familiar fez com que ficasse um pouco deslocado, pois não gostava dos vizinhos, que armavam arapucas para passarinhos e bagunçavam. Preferia a calma do estudo, e os coleguinhas o chamavam de pequeno pastor, rejeitando maiores relações com ele. Lia a Bíblia, para si e para os outros. Na sua autobiografia, um de seus últimos livros, Ecce Homo – como chegar a ser o que é, conta que como seus colegas duvidavam de uma história dele, deixou alguns palitos de fósforos queimarem até o fim, na palma de sua mão. Em 1858, Nietzsche conseguiu uma bolsa de estudos na escola de Pforta, onde havia estudado filósofo romântico Fichte (1762-1814). Leu Schiller (1759- 1805) e Byron (1768-1824), escritor boêmio romântico que foi um dos gurus do romantismo. O Romantismo teve uma importância decisiva na juventude de Nietzsche, que mais tarde, na maturidade, criticou-o. Com essas leituras, e mais a influência de alguns professores, começou a se afastar do cristianismo. Estudou muito na adolescência: a bíblia, o latim, autores clássicos, grego e a cultura grega. Gostou muito de Platão (428-348 a.C.) e Ésquilo (525-456). Escreveu um trabalho escolar sobre Teógnis (século VI a. C).<br /><br />Saindo de Pforta, partiu então para Bonn, onde estudou filosofia e teologia. Junto com seus colegas, Nietzsche teve um período de orgias sensuais, e arriscou atuar nas artes masculinas de fumar e beber, abandonando-as em seguida por considerá-las corruptoras da percepção e pensamento. Em 1867 é chamado para o serviço militar, mas teve um acidente quando montava a cavalo. Seus músculos peitorais se distendem. Seu professor preferido, Ritschl, de cultura grega, o persuadiu a mudar para Leipzig e se dedicar à filologia. Ritschl considerava a filologia o estudo das instituições e pensamentos, e não só o estudo das formas literárias. Seguindo o mestre, Nietzsche completou seus estudos brilhantemente em Leipzig, e realizou estudos sobre Homero, Diógenes Laércio (século III) e Hesíodo (século VIII a. C).<br /><br />A partir desses estudos, conseguiu precocemente o cargo de professor de filologia clássica da Universidade de Leipzig. Tinha 24 anos, e se interessava por música e poesia. Queria viajar para Paris, mas o professor Ritschl, em 1869 lhe propôs o posto de professor e ele aceitou. Lá conheceu um dos únicos amigos cuja amizade durou até o fim, Overbeck, que era professor de teologia. Nietzsche ocupa-se com muito trabalho. Dá aulas sobre Ésquilo e palestras, como: "Sobre a personalidade de Homero", "O drama musical grego". Redige um texto, A origem e finalidade da tragédia. Alguns não concordam com Nietzsche, mas todos o consideram um jovem de futuro promissor.<br /><br />Em 1870 ocorre a Guerra Franco Prussiana, passo importante para a unificação alemã. A Alemanha se industrializa, a exemplo da Inglaterra e França, que desde o século anterior passavam por processo de mecanização da produção. Otto von Bismarck, militar responsável pela unificação alemã, declara guerra à Prússia. Nietzsche participa da guerra como enfermeiro, mas logo adoece, com disenteria e difteria. Essa doença pode ser a origem dos problemas de saúde que o atormentaram por toda a vida. Recupera-se lentamente e volta para a Basiléia, afim de continuar suas atividades. Fica com a idéia de que o estado e a política são antagonistas.<br /><br />Ocorre a guerra civil da França, e queimam-se os arquivos do museu do Louvre (Paris). Nietzsche fica desesperado, pois considera um crime contra a cultura. Conclui o primeiro livro, O nascimento da tragédia no espírito da música. Meditou sobre o assunto enquanto atuava como enfermeiro. O livro tem forte influência de Wagner (1813-1883) e Schopenhauer. Por volta de 1865, passava por uma livraria quando viu a reedição de um livro que não havia feito muito sucesso na época em que foi feito: O mundo como vontade e representação.<br /><br />Encontrou nele um espelho no qual redescobriu a vida com uma natureza assustadora. Passa então, a realmente se interessar por filosofia. No livro está contida a idéia principal de que os atos dos seres vivos são fruto de uma cega vontade de viver. Admira-se com o seu ateísmo, e no Gaia Ciência chama Schopenhauer de "o primeiro filósofo assumidamente ateu". Schopenhauer diz que os meios de produção só são admiráveis quando podem ser adquiridos por qualquer homem, e que o aumento de custo, a falta de acesso, levam a uma centralização do poder negativa. Antes da guerra, em 1868, Nietzsche e Wagner se encontraram.<br /><br />Nietzsche gostava de suas músicas, como Tristão e Isolda. Através de Brockhauss, um professor da universidade casado com a irmã de Wagner, se encontraram. Nietzsche passou a visitar Wagner em Tribschen, que não ficava longe da Basiléia. Caracterizou o lugar como seu lar e seu refúgio. Wagner era profundo conhecedor da filosofia de Schopenhauer. Em 1872 é publicado o Nascimento da tragédia, que começa falando do drama musical grego, onde o dionisíaco se opõe ao apolíneo. O Deus Dionísio, do vinho e da festa, levava, em seus cultos, à experimentação dramática da existência. Os homens experimentavam a exacerbação dos sentidos, a vertigem e o excesso nos cultos ao Dionísio, o Baco dos romanos. A palavra bacanal deriva dessas festas em homenagem a Baco. O dionisíaco, é como um apolíneo uma pulsão cósmica, só que de outro tipo. Nela, se aniquilam as fronteiras e limites habituais da existência cotidiana. É o prazer da ação, a inspiração, o instinto. A existência cotidiana e dionisíaca são separadas um do outro. Mas ao passar ao turbilhão perceptivo do culto a esse Deus, volta-se ao estado normal, deseja-se a vida ascética. Os Deuses gregos eram necessários para esse povo, diz Nietzsche, porque legitimavam a existência humana. Os homens viviam seus deuses, que mostravam a vida sob um olhar glorioso. Na tragédia grega, a platéia participava também , era artista. A tragédia se opõe a comédia. Nos cultos, o Deus se revela, mostrando o drama da individualização.<br /><br />O livro de Nietzsche é o de um especialista em cultura grega, e sua mitologia. Transborda de lirismo. O apolíneo surge nas homenagens ao Deus Apolo. É o inverso de Dionísio, pois é o Deus da moderação e da individualidade, do lazer, do repouso, da emoção estética e do prazer intelectual. Esse Deus surge, na cultura grega depois de Dionísio. A arte grega retratava seus deuses, as pulsões cósmicas se manifestavam nas atividades. A arte grega era a união desses dois ideais, que se alternam. A música e o mito são inseparáveis na arte grega. O mito trágico expressava toda a crueldade do mundo dionisíaco. O coro é dionisíaco, e o diálogo, apolíneo.<br /><br />O pessimismo estava presente na arte, pois os gregos conheciam a dureza da vida. Essa dureza leva à desilusão, que é vencida na arte. A complementação que existia nas experiências antagônicas do Dinosíaco e Apolíneo foi destruída pela civilização. A Grécia antes não separava o manual e o intelectual, o cidadão e político. A filosofia dos pré-socráticos é afirmadora da vida e da natureza, pois o pensamento está unido com esse fenômeno, a vida.<br /><br />Mas Sócrates corrompeu essa atividade grega, com as suas teorias, realçou o lado frouxo do caráter ateniense e corrompeu a juventude. O caráter da filosofia passa a ser julgar a vida, humanizar a natureza, iluminar a escuridão do mundo com a luz tênue da razão. No lugar ao filósofo mediador, que recria os valores, surgiu o filósofo metafísico. Sócrates é o responsável pela divisão, na autoconsciência, do aparente e do real, no novo culto ao entendimento, ao dizer que nada sabia. Nas suas conversas e perambulações descobriu que os homens não tinham conhecimento seguro de suas atividades, não resistiam à sua dialética e à sua maiêutica, eles agiam apenas por instinto. O instinto passa, de força criadora, a ser crítico. Sócrates, teve que pagar por sua audácia, e sua serenidade diante da morte o tornou um exemplo e o novo ideal da juventude ateniense. Nietzsche também faz a crítica a Sócrates no livro O crepúsculo dos ídolos.<br /><br />O mito dionisíaco, assim, desapareceu da Grécia, deixou de ser vivenciado pelos homens. A exaltação, encarnada na folia da orgia, e corroborada pela música deram lugar ao apreço civilizatório. Mas será que ele sumiu para sempre? Nietzsche reconhece em Wagner um Ésquilo moderno, que restaura os mitos instintivos, tornando a unir a música e drama em êxtase dionisíaco. É esse o caráter de sua música, segundo Nietzsche, que , junto com o povo alemão iria restaurar o mundo experimentado sob transe místico. A música é uma linguagem universal em alto grau. Todas as sensações humanas, seus esforços, seu interior, pode se refletir e exprimir pelas melodias. A razão lança isso no conceito negativo do sentimento, diz Nietzsche. E , continua segundo a doutrina de Schopenhauer, a música é expressão da vontade. O peso da existência é atenuado com estimulantes, e deles derivam a civilização. Pode ser socrática, artística ou trágica. Exemplos respectivos: a civilização alexandrina, helênica ou hindu. A característica da civilização socrática é o otimismo, que está escondido na lógica. Ao mito se sucedeu a clareza do conhecimento. Nietzsche foi músico amador, embora quisesse mais do que isso. Era bom pianista e suas composições musicais chegam a dar bom volume.<br /><br />Wagner adorou o livro, dizendo que numa carta que suas palavras ainda não cobriam a grandeza do livro, pois eram insuficientes. Mas ele também provocou reações adversas, como a do helenista Mallendort. Pohden e Wagner respondem à crítica, que veio em forma de panfleto. Wagner gostava de Bakunin na juventude. Em 1872 Nietzsche voltou à Basiléia. Profere palestras. É polêmico, mas envolvente. Fala sobre a difusão da cultura na Alemanha. Defende a tese de que o ensino não deve ser apenas profissionalizante, mas capacitador do desenvolvimento das faculdades humanas. Desgostoso com o silêncio sobre o seu primeiro livro, se afunda no trabalho e na reflexão. Lhe vêm a idéia de que a filosofia é o médico da civilização. A filosofia deve ser crítica, não passiva. Redige uns pedaços de A filosofia na época trágica dos gregos.<br /><br />Nietzsche não é um pensador sistemático. Não podemos fazer divisões rígidas de seu pensamento, e classificá-lo é difícil. Alguns estudiosos dividem suas obras em três fases:<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Pessimismo Romântico</span></strong> - (1869-1876)<br /><em>Influência de Wagner e Schopenhauer.</em><br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Positivismo Cético</span></strong> - (1876-1881). Período de rupturas.<br /><em>Influência do moralismo francês. Critica o caráter demasiado humano da filosofia e defende a liberdade de espírito.</em><br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Período de Reconstrução<br /></span></strong><em>A fase de Zarathustra e da afirmação da vida.<br /></em><br />Escreve um ensaio, Sobre verdade e mentira no sentido extra moral, no qual explora o lado gnosiológico, de origem e fundamentação do conhecimento. O conhecimento é uma ilusão, a única relação do homem com o mundo possível é a estética. O conhecimento típico do homem, que assimila o mundo à sua perspectiva. Existem os instrumentos do conhecimento (categorias e linguagem) e seu produto, o mundo percebido. Uma das perspectivas que aprecem em Nietzsche é noção de que o instinto da conservação da espécie é a responsável por muitos atos. O conhecimento é útil à preservação da vida, e é também o objetivo de todos os líderes religiosos.<br /><br />O conhecimento não é transcendente, o homem é criador de seus valores. O homem interpreta e dá um sentido humano às coisas, o resultado é o mundo articulado. O conhecimento foi inventado em um minuto, em relação aos cosmos, pelo homem. Foi um minuto mentiroso. A verdade é procurada para ser válida e comum e a linguagem dá as primeiras leis da verdade. A verdade e a mentira seriam relativas, válidas para o ponto de vista humano.<br /><br />No processo de antropomorfização do mundo, o reduzimos e generalizamos. Por exemplo, ao estereotiparmos folha, ignoramos qual folha é verdadeira e válida. Não existe na natureza a folha, elas são bilhões. Nietzsche observa os humanos de longe, e não o considera um ser privilegiado. Um dos pontos principais de sua obra é a crítica aos valores judaico-cristãos. O homem não é divino. Necessita sobreviver e dominar, na história estão presentes a vontade de poder, de dominar. O destino de um homem não é tanto assim, afinal, o sistema solar é apenas um ponto. O homem se apega à mentira do conhecimento como se sua filosofia ou ciência explicasse realmente o mistério cósmico. São invenções o conhecimento, a moral e a metafísica. No século XVIII caíram as teorias de origem divina do homem. Mas existe o idealismo metafísico, o homem é divino, a Terra é escolhida. Para Nietzsche, o homem está sem Deus, sem causa transcendente. O conhecimento é ativo e submisso à vida. O mundo que tem valor é o que criamos ao perceber. Nossas verdades são ilusão.<br /><br />Para crescer em potência, uma espécie deve moldar sua concepção de realidade e comportamento em leis invariáveis e elementos previsíveis. Nos filósofos anteriores a Nietzsche, os órgãos de conhecimento eram de origem incondicionada ou transcendente. Para Nietzsche, a capacidade espiritual do homem tem um contexto natural e social.<br /><br />Kant havia dito que só podemos conhecer fenômenos, e não coisas-em-si. Nietzsche aceita essa posição. Ele vai contra o racionalismo enquanto instrumento da verdade, e contra o empirismo, baseado na coisa dada e apreensão dos fatos.<br /><br />Para Nietzsche, a verdade se tornou uma multidão de metáforas e metonímias, ou seja, relações humanas. Mas elas parecem objetivas e incriadas. O homem só conhece o efeito das leis da natureza, e não elas mesmas. A atividade do conhecer é um meio de se atingir a potência. Para se contrapor à ilusão em que vivemos, devemos desenvolver uma força artística. O mundo que percebemos é uma obra de arte dos sentidos e do intelecto. Da concepção de conhecimento deriva a noção kantiana do conhecimento com atividade constituinte e legisladora. Nietzsche é contra a humanização do mundo.<br /><br />A objetividade, para o homem, é uma função prática da subjetividade. A essência se torna sentido, e o sentido é uma força ou valor. Esse livro, Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, é sobre verdade e linguagem. A palavra não é mais do que uma representação sonora de uma excitação cerebral. Nietzsche chega à velha verdade: existe um abismo entre a sensação e a linguagem. com a vida gregária, vem designação obrigatória e verdadeira das coisas. Assim surge a verdade, de caráter social , convencional.<br /><br />Nietzsche criticou David Strauss, num ensaio que obteve aceitação, dentre outros, do hegeliano de esquerda Bruno Bauer.<br /><br />Nos Ensaios das Considerações Extemporâneas, livro de caráter polêmico, critica o historicismo, e as Universidades. Diz que o Estado não protege nunca homens como Schopenhauer e Platão, pois tem medo deles. É acusado de megalomania.<br /><br />Nietzsche sempre foi um defensor do virtuosismo, bem como do espírito guerreiro. Diz que toda a arte e filosofia são um meio para a vida que cresce. Os homens grandes sofrem. Os sofredores são de dois tipos: os de abundância de vida, que querem uma arte dionisíaca, e os que sofrem de empobrecimento de vida. Os românticos são da última categoria. Cita como exemplo de românticos desse tipo Wagner e Schopenhauer, seus ídolos da mocidade, quando já estava maduro, na Gaia Ciência.<br /><br />Em 1872, Nietzsche freqüenta assiduamente a casa de Wagner. Wagner, e sua mulher Cosima lhe tratam com respeito. Nietzsche tem uma paixão contida por Cosima. Wagner se muda e eles começam a se afastar. Nietzsche começa a se isolar. Em 1876, vai assistir a tetralogia, O anel dos Nibelungos, de Wagner, que andava fazendo muito sucesso e deixara-se embriagar com isso. Nietzsche se irrita com o caráter burguês da obra e pela nivelação da sociedade medíocre, que grosseiramente se entusiasmava pela música. " aguardo com terror o fim dessas noites, não agüento mais." Desiludido, vai para Bayreuth. O Parsifal, de Wagner, é uma exaltação ao cristianismo e à santidade. Mais tarde, critica Wagner em muitos aspectos, em o Caso Wagner. Começa a sofrer de saúde. Paul Reé, um médico, vem lhe prestar auxílio. Paul publicara em 1875 Observações psicológicas e se preparava para o segundo livro.<br /><br />Em novembro de 1876 Nietzsche e Wagner convivem pela última vez. Na Gaia ciência, fala que eles tiveram uma amizade astros, mas como dois navios com objetivos próprios, partiram para mares e sóis diferentes.<br /><br />Nietzsche vai para Sorrento, numa estada proveitosa. Volta para a Basiléia e à universidade, a saúde piora. Em maio de 1878 lança Humano, Demasiado Humano, numa crítica aos valores. Seguem-se opiniões negativas e positivas. Wagner, Rohde e Malwida ficam embaraçados, contra. Outros, como Overbeck, Rée e Gast elogiam o livro. Bruno Bauer o elogia, mais tarde. O livro é lançado em comemoração ao centenário da morte de Voltaire, em 1879, Nietzsche se aposenta da faculdade e ganha uma bolsa de 400 francos anuais por serviços prestados à cultura.<br /><br />A Basiléia foi seu lar durante dez anos. Lá viveu, fez amigos, trabalhou, sempre criticando o vazio de muitos eruditos. Freqüentara a vida acadêmica. Passou, então, a ter uma vida errante. Em 1870, sua saúde piora de vez, ele fica à beira da morte. Crises graves e ininterruptas durante meses. Restabelecido, mas não totalmente, viaja pela Europa: Suíça, Itália, França e Alemanha. Numa linguagem mais amena, mas não menos crítica, escreve com todo o seu ser, Suas Verdades são Sangrentas. Ignora o que sejam verdades espirituais. Em 1880 publica O andarilho e sua sombra. ". Em 1885 escreve um livro que é de um homem culto do século XIX, opinando sobre diversos assuntos em pequenas sessões. Faz crítica literária, artística, filosófica e até política. Vê a juventude com outros olhos. O jovem é um barril de pólvora , que pode se inflamar em torno de qualquer ideologia. Nesse sentido, acha o hegelianismo perigoso. A obediência aos costumes é moralidade. Os fracos governam, pois associaram-se e recriminam os fortes.<br /><br />O que é proveitoso constitui o valor. O homem é o criador de valores, mas se esquece de sua criação. A moralidade é o instinto gregário do indivíduo. Quem é punido é quem pratica os atos. Na sociedade, existem os instintos de rebanho. Atribuem-se às palavras um sentido fixo e acha que ela espelha a realidade, que tem caráter transitório. O homem chega, pelos costumes, à convicção de que é preciso obedecer. No inverso disso, existe o prazer, a autodeterminação e a liberdade de vontade.<br /><br />O espírito livre revolta-se contra a crença. Para libertar-se, é preciso um longo processo de abandono de hábitos e comodidades.<br /><br />Nietzsche não era racional, depois passou a criticar a teologia e elogiar um pouco a ciência. Mas ela está carregada de antropomorfismos. A parte positiva é que ela se livrou do além, da vida após a morte. Escapou das crenças, mas não da crença da verdade. Nietzsche diz que os homens de ciência não têm espíritos livres. A interpretação científica não é única. No inverno de Gênova, vê a obra musical Carmen, de Bizet. Sente-se arrebatado e transportado. É um retorno à vida, depois de estar de caras com a morte.<br /><br />No final de abril de 1882, Nietzsche chega à Roma. Viajou em um cargueiro. Sua vida amorosa não foi das melhores. Foi recusado no pedido de casamento duas vezes. Conheceu, através de um amigo, duas jovens de origem russa, em 1876. Pediu em casamento a mais velha (eram irmã), que mais tarde se casou com Hugo. Em julho de 1876 encontrou uma francesa, Louise Ott.<br /><br />Na Sicília, Paul Rée e Malwida lhe escrevem, pedindo que conheça uma moça, Louise von Salomé, que russa, viajava pela Itália com a mãe. Era muito inteligente e tinha uma personalidade liberada, com comportamento e espírito idem. Ela se relaciona com Nietzsche, mas também gosta de Rilke e admira Freud. Em Roma se conheceram, e Nietzsche se apaixonou. Vão para a Suíça com Rée. Querem ter uma vida cultural, com muitas pesquisas em um grande centro, num projeto que chamas de Santa Trindade. Nietzsche pede Lou em casamento e obtém nova recusa. Ela escreveu um livro sobre Nietzsche, em 1894. O trio se separa. Depois, voltam a ficar algumas semanas juntos. Nietzsche quer fazer de Lou uma discípula que continue seu pensamento.<br /><br />A família de Nietzsche é contra sua paixão. Seu comportamento é liberado demais: vive com dois homens sem ser casada. E Lou acabou ficando com Rée em Berlim por cinco anos. Rée foi assassinado em 1904, depois de praticar sodomia. Lou se casou com Carl Andréas.<br /><br />Em Silas Maria, Surlei, Nietzsche tem a visão do eterno retorno, teoria que colocará em sua obra prima, Assim Falava Zarathustra. A energia e a matéria do universo são finitas, e ele está sempre em fluxo, de modo que, no futuro, as coisas voltam. Cada instante traz a marca da eternidade, e volta a acontecer um número infinito de vezes. As civilizações voltarão, até mesmo Nietzsche voltará. O universo é animado por um movimento circular sem fim. Passa de um frescor para desenvolver-se e chegar ao ápice, e renasce, como Phoenix, de si mesmo. A soma de energia permanece igual no universo. Apesar disso, Nietzsche condenava a crença na vida após a morte. Para ele o homem havia sido preso pela suas crenças, inventadas e colocadas acima do real. Não devemos nos voltar para o além e o eterno, pois essas mistificações reduzem o homem à condição de servo e destrói as fontes mais profundas da vida. No lugar dessas crenças, devemos reconhecer em nós e na história a Vontade de Potência, de poder. Na teoria do eterno retorno, o mundo se alterna na criação e destruição, alegria e sofrimento, bem e mal. Em Zarathustra, Nietzsche é um defensor do virtuosismo, virilidade, contatos rústicos com a natureza e espírito guerreiro.<br /><br />Como explica em um poema, Nietzsche estava num jardim, no inverno de Rapallo, esperando e meditando além do bem e do mal, quando "um se fez dois, e Zarathustra passou por mim". Nada tem a ver com o Zarathustra persa. Quando Nietzsche terminou a primeira parte de Zarathustra, Wagner morreu (sua última música foi Parsifal).Terminou o livro em 1885. Em 1888, Nietzsche escreve o Nietzsche contra Wagner, que junto com o Caso Wagner, constitui a justificativa teórica, exorcista, das suas desavenças com Wagner. Nietzsche o critica a torto e a direito, e é famosa a frase em que diz: "Wagner acaricia cada instinto budista e embeleza-o com a música; acaricia toda a forma de cristianismo e toda a forma de decadência".<br /><br />Nietzsche reconhece em Wagner o pessimismo, influência de Schopenhauer, e estava em uma fase de afirmação do lado positivo da vida. Foi muito difícil editar Assim falava Zarathustra, "um livro para todos e para ninguém". Como em muitas edições de seus livros, Nietzsche pagou do próprio bolso a última parte da obra- foi uma tiragem de quarenta exemplares, mas não tinha para quem mandá-lo, pois estava sem amigos, e enviou-o para sete pessoas. Overbeck lhe manda livros de vez em quando, pois sabia que Nietzsche estava em dificuldades financeiras.<br /><br />Nietzsche começa a redigir Além do bem e do mal. É o livro pós-Zarathustra, sobre o qual disse: "é incompreensível, pois remete a experiências só minhas, e eu não encontro companhia nem entre os vivos, nem entre os mortos". Nietzsche faz prefácios para edições anteriores de seus trabalhos e redige a última parte de A Gaia Ciência. Leu Dostoievsky, e adorou sua psicologia, que põe em personagens. O próprio Nietzsche via em si e em sua filosofia uma fonte para muitos psicólogos, que ele considerava terem muito a evoluir. Escreve Para uma genealogia da moral, que complementa e ilustra Para além do bem e do mal. Nietzsche vê As Origens e motivos que fizeram o homem viver de acordo com a mentira da moral, que serve aos fracos. Escreve um adendo para o Além do bem e do mal.<br /><br />Em 1889, começa a pirar. Saindo do seu quarto de pensão, vê um cocheiro açoitando seu cavalo. Precipita-se entre o animal e o açoite e perde os sentidos. Ficou desmaiado dois dias. Quando Overbeck vai visitá-lo, está louco. Diz que é o sucessor do Deus morto e o bufão da eternidade. Escreveu cartas para muitas pessoas, assinando como Dionísio, e o crucificado. Nietzsche sofria da saúde então. Não conseguindo tratamento adequado, se tornara seu próprio médico. Tomava drogas como o ópio, haxixe (principalmente) e cloral.<br /><br />Escreve a primeira parte de seu projeto A vontade de potência, O anticristo. Escreve Ditirambos de Dionísio. Escreve Ecce como. Os ditirambos são poemas, Nietzsche gostava de poesia, admirava Goethe e sua sabedoria. No anticristo, continua seu ataque à moral cristã, como força inimiga da vida, restringidora da vontade de potência , e cuja influência apolínea desvirtuou a humanidade.<br /><br />Nietzsche é internado na Basiléia. Sua mãe foi contra. O diagnóstico é paralisia cerebral progressiva, causada possivelmente pelo uso de drogas e tendo como agravante sua saúde precária. Nietzsche fica dócil e seus amigos duvidam de sua loucura. Nas visitas, revela boas memórias.<br /><br />A irmã de Nietzsche, Elizabeth Foster, volta do Paraguai, depois da morte do marido anti semita, que Nietzsche não gostava. Depois de uma luta judicial, consegue a responsabilidade pelos escritos do irmão, e passa a manipulá-los. Eles tiveram uma relação incestuosa. Ela Publica A Vontade de potência, não de acordo com a vontade do autor, mas uma coletânea de anotações e aforismos. Os livros de Nietzsche fazem sucesso na virada do século, ele obtém reconhecimento, e seus livros dão dinheiro. Mas não adiantava mais, era tarde. No hospício, Nietzsche escreve Minha irmã e eu. Morre em agosto de 1900. Sua irmã ainda manipulou seus escritos a favor do fascismo, era admiradora de Mussolini. Sua teoria do super-homem foi adaptada para servir ao arianismo.<br /><br />Nietzsche critica Kant, ora contra ora a favor. Diz que sua sabedoria era imensa. Que era um cristão pérfido, insidioso. Devemos a Kant um avanço metafísico, o de não crer mais na possibilidade de conhecer um além - mundo. Ele se orgulhava de seu avanço, o de ter descoberto os juízos sintéticos a priori (antes da experiência), sendo possíveis graças a uma faculdade. Mas Nietzsche diz que não temos de acreditar em tais juízos, no seu valor prático, mas nos perguntar como eles são possíveis. Porque preferir sempre a verdade? Ela nem mesmo é fixa e inalterável. Nietzsche é adepto do perspectivismo, a pessoa enxerga o mundo de acordo com sua perspectiva sócio-cultural. A partir do sujeito, o sujeito não pode ser pensado, só vivido, sempre a entender e a interpretar. Nietzsche o chama de "o velho Kant, o grande chinês de Köninsberg. Os sistemas filosóficos exemplares de Kant e Hegel têm colocado fórmulas e valorações nos campos em que atuam.<br /><br />Para Nietzsche, Hegel e Schopenhauer se colocaram contra bestial mecanização do mundo. Embora voltados para a modernidade, não faziam do racionalismo algo reducionista. Assim também acontece com Goethe, que Nietzsche não critica, diz que ele inspira respeito. Nietzsche, inicialmente via no povo alemão uma força dionisíaca capaz de afastar a monotonia apolínea instaurada na Europa. Mas depois critica os alemães em diversos pontos. Diz que depois de dominar o espírito, se entediam com ele. Esse povo embruteceu com o cristianismo e o álcool. O essencial de sua cultura superior está perdido. Nietzsche reagiu contra o historicismo de Hegel, que justifica as ações dos homens de acordo com o espírito e com o absoluto.<br /><br />No Crepúsculo dos ídolos, Nietzsche analisa como Sócrates conseguiu penetrar no coração dos nobres atenienses. Tocava no instinto de combate grego e era um erótico. Assim, conseguiu se sobressair, apesar de ser feio. Então ele afastou as mitificações que exploravam o lado obscuro da natureza, que só podia ser sentido, vivido, e não pensado. Afastou-o com a luz da razão, que elevou à categoria de tirana. Para Nietzsche, a verdade e a falsidade não mais existem, mas sim sinais, o homem está destinado à multiplicidade, pois tudo é interpretação.<br /><br />Nietzsche condena a noção que se encontra na cultura de muitos povos, que explicam tudo sob a luz racional e terceirizam para um além mundo o que não se encaixa. Assim, a razão é considerada como divina, pois seu estado de clareza leva a um falso bem estar. A natureza, para Nietzsche , está além das concepções humanas de entendimento. Essa mesma natureza devia ser experimentada de acordo com o espírito guerreiro, temos de viver em estado de guerra, e resistir aos apelos supra terrenos. Ele criticou a metafísica, que colocava o mundo como reflexo diminuído de algo transcendente. A recompensa para o sofrimento dessa vida, segundo o cristianismo, está no além. O cristianismo é um vale de lágrimas. São os escravos e vencidos, ou seja os que não podiam experimentar esse mundo com o virtuosismo que ele merece, que fizeram a moral dos fracos, inventando o além. Para recuperar o lado positivo da vida, é necessário uma transmutação de todos os valores, uma revigoração da cultura judaico-cristã. No processo de transformação, teríamos de lutar contra os erros sob os quais fomos criados, como o ressentimento (é tua culpa se sou fraco), a consciência de culpa e o ideal ascético.<br /><br />Mas sua tarefa é solitária. Toda a civilização é produto de bases falsas, os eruditos são os que têm maior responsabilidade para lutar contra esse defeito, e questionar os próprios princípios. A cultura encontra-se em decadência, como resultado do afastamento da força da vida, tão escassa no universo. Nietzsche se afastou, ao enxergar a verdade cada vez mais longe. Mas pagou sua dívida por esse afastamento ao criar seu herói solitário, Zarathustra, um questionador da cultura e civilização, bem como da moral e valores sobre o qual ela se apóia. A tarefa de conscientização de Zarathustra não é fácil, ele encontra a ignorância do "populacho" em um tempo não definido. Zarathustra é o personagem principal de um romance filosófico-poético. Com trinta anos, sobe à montanha para escapar dos males das relações humanas e adquirir conhecimento da natureza. Vive em exposição aos elementos naturais, e junto aos seus animais (uma águia e uma serpente). Lá vive por dez anos, até saciar de seu conhecimento como abelha que produz muito mel, e parte para o convívio humano. A narrativa é pouca, o que preenche o livro são os discursos de Zarathustra. Ao descer encontra um velho e depois de dialogar se interroga: "será possível que este homem santo não saiba que deus morreu?"<br /><br />Nietzsche já havia feito essa afirmação na Gaia ciência, e desenvolve com Zarathustra. Os Deuses morreram de tanto rir, ao ouvir a afirmação de que só existe um Deus. Nietzsche pretende colocar com essa afirmação que a civilização racional afastou as interpretações místicas do mundo, prevalecendo na Terra, o senso comum, e nele não há lugar para Deus, pois o homem não pode suportar não ser Deus, e, portanto, Ele não existe. A ignorância do dogmatismo faz com que acreditemos em coisas absurdas. Pelo fato de não podermos explicar, colocamos nossas esperanças no fim das frustrações no além.<br /><br />Para substituir a divindade morta, Nietzsche sugere o super-homem: o bom senso da Terra. O que há de nobre do homem é ser ele um fim, e não um meio. O super-homem é a ponte, é ele o raio. O homem é algo que será superado. Ele é o resultado da vontade de potência exercida, um paradigma da virilidade e virtuosismo. Se coloca além do bem e do mal, e fez seus valores em pedaços. O povo ri do discurso de Zarathustra, que resolve não pregar mais em praças.<br /><br />Ao longo do livro Zarathustra viaja e expõe sua doutrina sobre assuntos diversos, adquirindo alguns discípulos. Os poetas mentem em demasia, Zarathustra expõe a verdade. É um apoio à margem do rio, mas não uma muleta. Por trás de toda a moralidade existe a vontade de poder. O homem deve exercer o poder da vida, de modo a servir de solo ao super-homem. A moral é uma força contrária à natureza. Para chegar ao super-homem, Nietzsche não descarta a eugenia, a procriação para fins de superação. Passa-se o sangue e a alma para o filho, que continua as obras. O sangue é espírito também. A educação deve enobrecer o espírito humano, e não restringi-lo. Uma vida viajante faz com que não nos prendamos em rotinas, tem que se viver em estado de alerta, como guerreiro. Zarathustra só poderia crer num Deus que dança, pois todos os dias em que não há danças estão perdidos. Zarathustra critica o Estado, pois ele não representa o povo. Tudo nele é falso, diz Zarathustra. O homem deu valores às coisas afim da autoconservação, um valor humano, inadequado. A humanidade não existe, pois é uma abstração.<br /><br />Os sábios servem o povo e a superstição, não a verdade. Ela está onde o povo está. Zarathustra conversa com a vida e com os animais, que chegam a cuidar dele em sua época de doença e delírio. A vida lhe confia um segredo: "Olhe, eu sou o que deve ser superior a si mesmo".<br /><br />Zarathustra crítica os estultos e ama a liberdade. É o último dos sábios, e conhece a arte da retórica. Zarathustra parte em busca de novos horizontes, Primeiro vai para as ilhas bem aventuradas, depois se aventura para além do oceano. Passa pela cidade dos tolos, escorraça-os. Encontra aquele que matou Deus, sempre em busca do homem superior. Mas volta para a terra onde morava, quer retornar à sua gruta. Ouve o grito do homem superior, e no caminha encontra diversas personagens: os reis, o viajante, o homem mais feio, o mendigo. Convida-os tanto para um jantar em sua gruta, onde se dá a ação final. Lá há espaço e comida para todos. Zarathustra consegue o reconhecimento desses homens, com seu pensamento, que de modo crítico, coloca a arte e poesia como força criadora e de vida, o único valor possível.<br /><br />Os outros livros de Nietzsche são influenciados pelo o de Zarathustra. Nietzsche se superou, como pensador da cultura e artista. Sua influência na filosofia posterior é grande, como em Deleuze, Heidegger e Foucault. Depois da segunda guerra, houve uma retomada da interpretação de sua filosofia, em sua acepção original, não deturpada. Fez a crítica da modernidade, e seu bravo peito desbravou os horizontes possíveis com o artifício da linguagem, e não cedeu diante as adversidades, em sua vida incomum. Influenciou também os existencialistas e os psicólogos. Além de músico, poeta filólogo e filósofo, foi um grande escritor. Suas obras têm um tom profundo e coeso, como em Platão.<br /><br /><br /><span style="color:#ffff66;"><blockquote><span style="color:#ffff66;">Este texto, com pequeníssimas modificações, foi cedido pelo<br />webmaster da "</span><a href="http://www.consciencia.org/" target="_blank"><span style="color:#ffff66;">Consciência Home Page</span></a><span style="color:#ffff66;">", naquela<br />página você pode encontrar tudo sobre os grandes filósofos de todos os tempos.<br />Recomendo enfaticamente!!!</span></blockquote></span><br /><br /></div><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><p align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"> [</span><a href="http://www.culturabrasil.pro.br/nietzsche.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://www.culturabrasil.pro.br/nietzsche.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></p></blockquote></span>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-19071862776313543682007-12-15T17:01:00.000-02:002007-12-15T17:20:42.919-02:00Professor explica por que ler Nietzsche<div align="justify"><blockquote>da Folha Online<br />03/03/2007 - 19h57<br /></blockquote></div><div align="justify">Um breve e abrangente livro sobre Nietzsche, pensador que refletiu sobre todos os problemas cruciais da cultura moderna, sobre as perplexidades, os desafios, as vertigens do fim do século 19. É o que o leitor encontra no volume da coleção <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u66918.shtml">"Folha Explica"</a> sobre o autor --o primeiro capítulo de <a href="http://publifolha.folha.com.br/catalogo/livros/135435/">"Nietzsche"</a> pode ser lido abaixo.<br /></div><div align="justify">No livro, Oswaldo Giacóia Junior mostra porque é impossível se colocar à altura dos principais temas e questões do nosso tempo sem entender o pensamento de Nietzsche, um dos pensadores mais provocativos da filosofia moderna.<br /></div><div align="justify">Para Giacóia Junior, o impacto da filosofia de Nietzsche "advém de sua extraordinária clarividência". "Ele pressentiu, em estado de gestação, as ameaças mais fatais de nosso tempo. Anteviu o panorama sombrio que poderia advir do projeto sociopolítico de uma sociedade de massas. Nietzsche profetizou que a sociedade ocidental caminhava, desde então, para um nivelamento por baixo", explica o autor.<br /></div><div align="justify">Oswaldo Giacóia Júnior é professor de filosofia na Unicamp. Formado em Direito pela USP, Giacóia é mestre em Filosofia pela PUC-SP e doutor em Filosofia pela Freie Uinversität Berlin (Alemanha). Além de "Nietzsche", Giacóia é autor de <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u68135.shtml">"Pequeno Dicionário de Filosofia Contemporânea"</a>, "Os Labirintos da Alma" (1997), "Nietzsche & Para Além de Bem e Mal" (2002) e "Sonhos e Pesadelos da Razão Esclarecida" (2005).<br /></div><div align="justify">Como o nome indica, a série <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u66918.shtml">"Folha Explica"</a> ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.<br /></div><div align="left"><blockquote><a href="http://publifolha.folha.com.br/catalogo/livros/135435/">"Nietzsche"</a><a href="http://publifolha.folha.com.br/catalogo/livros/135435/">Autor:<br />Oswaldo Giacóia Júnior<br />Editora: Publifolha<br />Páginas: 96<br />Quanto: R$<br />17,90<br /></blockquote></a></div><blockquote><div align="justify">Leia Capítulo<br /></div><div align="justify">POR QUE LER NIETZSCHE HOJE </div></blockquote><div align="justify">Dentre os clássicos da filosofia moderna, Nietzsche talvez seja o pensador mais incômodo e provocativo. Sua vocação crítica cortante o levou ao submundo de nossa civilização, sua inflexível honestidade intelectual denunciou a mesquinhez e a trapaça ocultas em nossos valores mais elevados, dissimuladas em nossas convicções mais firmes, renegadas em nossas mais sublimes esperanças. Essa atitude deriva do que Nietzsche entendia por filosofia. </div><div align="justify"><br />Para ele, filosofar é um ato que se enraíza na vida e um exercício de liberdade. O compromisso com a autenticidade da reflexão exige vigilância crítica permanente, que denuncia como impostura qualquer forma de mistificação intelectual. Por isso, Nietzsche não poupou de exame nenhum de nossos mais acalentados artigos de fé. O destino da cultura, o futuro do ser humano na história, sempre foi sua obsessiva preocupação. Por causa dela, submeteu à crítica todos os domínios vitais de nossa civilização ocidental: científicos, éticos, religiosos e políticos. </div><div align="justify"><br />Nietzsche é um dos grandes mestres da suspeita, que denuncia a moralidade e a política moderna como transformação vulgarizada de antigos valores metafísicos e religiosos, numa conjuração subterrânea que conduz ao amesquinhamento das condições nas quais se desenvolve a vida social. Nesse sentido, ele é um dos mais intransigentes críticos do nivelamento e da massificação da humanidade. Para ele, isso era uma conseqüência funesta da extensão global da sociedade civil burguesa, tal como esta se configurou a partir da Revolução Industrial. </div><div align="justify"><br />Nietzsche se opõe à supressão das diferenças, à padronização de valores que, sob o pretexto de universalidade, encobre, de fato, a imposição totalitária de interesses particulares; por isso, ele é também um opositor da igualdade entendida como uniformidade. Assim, denunciou a transformação de pessoas em peças anônimas da engrenagem global de interesses e a manipulação de corações e mentes pelos grandes dispositivos formadores de opinião. </div><div align="justify"><br />O esforço filosófico de Nietzsche o levou a se confrontar com as grandes correntes históricas responsáveis pela formação do Ocidente: a tradição pagã greco-romana e a judaico-cristã; e o que resultou da fusão entre as duas. </div><div align="justify"><br />Ao longo desse seu confronto com o conjunto da herança cultural de nossa tradição, Nietzsche forjou conceitos e figuras do pensamento que até hoje impregnam nosso vocabulário e povoam nosso imaginário político e artístico. Tais são, por exemplo, as noções de Apolo e Dionísio, transformadas em categorias estéticas, os conceitos de vontade de poder, além-do-homem (Übermensch), eterno retorno e niilismo e a figura da morte de Deus. </div><div align="justify"><br />É impossível se colocar à altura dos principais temas e questões de nosso tempo sem entender o pensamento de Nietzsche. Ateísta radical, ele atribui ao homem a tarefa de se reapropriar de sua essência e definir as metas de seu destino. Dele afirma o filósofo Martin Heidegger: "Nietzsche é o primeiro pensador que, perante a história universal pela primeira vez aflorada em seu conjunto, coloca a pergunta decisiva e a reflete internamente em toda a sua extensão metafísica. Essa pergunta reza: como homem, em sua essência até aqui, está o homem preparado para assumir o domínio da terra?"1 </div><div align="justify"><br />Nesse sentido, Nietzsche é o pensador de nossas angústias, que não poupou nenhuma certeza estabelecida - sobretudo as suas próprias convicções - e desvendou os mais sinistros labirintos da alma moderna. Com a paixão que liga a vida ao pensamento, Nietzsche refletiu sobre todos os problemas cruciais da cultura moderna, sobre as perplexidades, os desafios, as vertigens no fim do século 19. Dessa sua condição, postado entre o final e o início de duas eras, Nietzsche esboçou um quadro que, em todos os seus matizes, nos concerne ainda, na passagem a um novo milênio, em direção a um destino que ainda não se pode discernir. </div><div align="justify"><br />A despeito de sua visão sombria, Nietzsche tentou ser, ao mesmo tempo, um arauto de novas esperanças. Sua mensagem definitiva - a criação de novos valores, a instituição de novas metas para a aventura humana na história - é também um cântico de alegria. Essa é uma das razões pelas quais o estilo de Nietzsche resulta da combinação paradoxal de elementos antagônicos: sombra e luz, agonia e êxtase, gravidade e leveza. </div><div align="justify"><br />Isso explica por que, para ele, o riso e a paródia são operadores filosóficos inigualáveis: eles permitem reverter perspectivas fossilizadas. Nietzsche, o impiedoso crítico das crenças canônicas, é também um mestre da ironia. Sua ambição consiste em tornar superfície o que é profundidade, restituir a graça ao peso da seriedade filosófica. </div><div align="justify"><br />Opositor ferrenho da dialética socrática, Nietzsche reedita, no mundo moderno, o gesto irônico do pai fundador da filosofia ocidental. Decisivo adversário de Platão, sua filosofia talvez possa ser caracterizada como uma inversão paródica do platonismo. Definindo-se como o mais intransigente anticristão, dá, no entanto, à sua autobiografia intelectual, escrita no final de sua vida, o título Ecce Homo ("Eis o Homem") - expressão empregada por Pilatos ao apresentar Jesus a seus algozes, pouco antes da Paixão. </div><div align="justify"><br />Nietzsche, o filósofo-artista, um poeta que só acreditava numa filosofia que fosse expressão das vivências genuínas e pessoais, vendo na experiência estética uma espécie de êxtase e redenção, é, por isso mesmo, um precursor da crítica a um tipo de racionalidade meramente técnica, fria e planificadora. A despeito da profundidade e da gravidade das questões com que se ocupa, sempre as tratou em estilo artístico, poeticamente sugestivo; só acreditava na autenticidade de um pensamento que nos motivasse a dançar. Ele mesmo imagina sobre sua porta a inscrição: </div><div align="justify"><br /><blockquote>Moro em minha própria casa<br />Nada imitei de ninguém<br />E ainda ri de todo<br />mestre<br />Que não riu de si também.2 </blockquote></div><div align="justify"><br />Sem extravasar os limites dos livros desta série, Folha Explica Nietzsche se propõe a ser uma apresentação geral do homem e do filósofo Friedrich Nietzsche. Seu objetivo é fazer com que o leitor se familiarize com os conceitos, as figuras e o estilo de Nietzsche --não para depois encerrá-los em qualquer câmara da memória, mas sim para despertar seu interesse e estimulá-lo a seguir adiante. Aceitar o desafio de Nietzsche implica, sobretudo, pensar independentemente; e por isso, às vezes, também contra Nietzsche. </div><div align="justify"><br /></div><blockquote><p>1 Heidegger, "Wer ist Nietzsches Zarathustra?"; em: Vorträge und Aufsätze.<br />Pfullingen: Neske Verlag, 1954; p. 102. </p><p><br />2 Epígrafe de A Gaia Ciência; em:<br />Nietzsche, Obra Incompleta. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. Col. Os<br />Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974; p. 195. </p><p> </p><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><p align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u352101.shtml"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u352101.shtml</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></p></blockquote></span></blockquote>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-69982048561441234692007-12-15T16:54:00.000-02:002007-12-15T17:00:52.863-02:00NIETZSCHE E O ASCETA<div align="justify">Na amplíssima crítica que Nietzsche desenvolveu contra os chamados valores ocidentais, nem a vida do asceta, do homem santo, tão admirada e enaltecida pelo cristianismo, escapou do arguto e contundente olhar do filósofo. Aqueles a quem a maioria das pessoas identificava como representantes da mais pura e impressionante das atitudes - o completo e radical repúdio aos prazeres da vida - , apresentavam-se aos olhos dele, de Nietzsche, como um exemplo de uma forma extremada da orgulhosa vontade de poder. Nietzsche, a revolta contra a flagelação da carne <br /><br /><strong><span style="color:#ffccff;">A guerra ocasional do asceta </span></strong><br /><br />Nietzsche disse no seu livro Humano, demasiado humano, de 1886, que, para tornarem suas vidas mais suportáveis e também mais interessantes, os homens santos ou os ascetas, tratavam de travar "guerras ocasionais" contra o que chamou de seus "inimigos internos". Ao tomar consciência de que eles também não estavam livres da vaidade, que o desejo de glória não lhes era estranho, e que, inclusive, até eles eram acometidos por apetites sensuais, explicava que a existência do asceta resumia-se numa contínua batalha onde se enfrentam o bem e o mal. Numa desastrada guerra travada entre o corpo e a mente. Por desconhecerem ou reprimirem os prazeres da carne, jamais satisfazendo as exigências do sexo, os anacoretas passam a ser permanentemente atormentados por sonhos delirantes, por fantasias eróticas as mais escabrosas e dissolutas. Os pobres santos, em sua volúpia pelo martírio, desconheciam de que era justamente a ausência de sexo que fazia com que fossem assolados por tentações e pesadelos de toda ordem.<br /><br /><strong><span style="color:#ffccff;">A dura vida da ascese</span></strong> <br /><br />Para exaltar ainda mais a vitória deles sobre a sensualidade (a representante mais ativa do demônio), e para impressionar os não-santos, os ermitões, para valorizar-se, difamavam-na e a estigmatizavam, associando-a, a excitação, ao pecado e ao mal. Ao espalharem que o homem era gerado em pecado, fizeram com que qualquer ser humano, desde o seu nascimento, nos princípios mesmo da sua vida, se sentisse marcado pelo sinal da transgressão, porque até o ato que os gerava, conúbio carnal, foi denunciado por eles como algo repugnante. É de se imaginar, pois, o enorme estrago que tal doutrina, assumida na plenitude por Santo Agostinho, não provocou nas famílias cristãs, deixando em cada crente uma sensação ininterrupta de má consciência. Estigma que revelou-se em sua plenitude no verso de Calderon de la Barca: "a maior culpa do homem é ter nascido".<br /><br /><strong><span style="color:#ffccff;">Empédocles, a tolerância do sábio pagão<br /></span></strong><br />Se bem que é comum às religiões pessimistas condenarem o ato da procriação como uma coisa ruim, Nietzsche recorda que Empédocles, o grande filósofo de Agrigento (494-444 a.C.), um símbolo da tolerância sexual dos pagãos, nada conheceu de vergonhoso ou satânico na existência das coisas eróticas. Bem ao contrário. Para ele era justamente Afrodite, a Vênus, quem trazia esperança e salvação para a vida medíocre e sensabor da maioria das pessoas, resgatando-as da discórdia em que normalmente se condenavam. O sexo, enfim, não escraviza, liberta! </div><div align="justify"> </div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-89125520653582127922007-12-15T16:42:00.000-02:002007-12-15T16:46:35.607-02:00LEITURAS FUNDAMENTAIS<div align="justify"><strong><em><span style="color:#ff0000;">Zaratustra: tragédia nietzschiana</span></em></strong>, de Roberto Machado<br />(Jorge Zahar Editor, RJ, 1997, Editora, 175 págs.)<br /><br /><strong><em><span style="color:#33ccff;">O "Zaratustra" de Nietzsche</span></em></strong>, de Pierre Hébert-Suffrin<br />(Jorge Zahar Editor, RJ, 1991, 161 págs.)<br /><br />Nietzsche é um autor reconhecidamente difícil de ser traduzido, não só por escrever num alemão clássico, extremamente refinado, mas por razões que lhe são próprias. Ele é, como o leitor não se cansa de ver no "Assim falou Zaratustra", um poeta e um filósofo, fazendo que o seu tradutor se embarace ao tentar reproduzir o som harmonioso da lira, ou o pio preciso e mais frio da coruja. Além disso a prosa filosófica alemã naturalmente vocacionada à metafísica, à abstração pura, apresenta complexidades diversas para qualquer tradutor de qualquer idioma. Em cada palavra poderá haver implicações outras, duplas, triplas, quadruplas, ... inúmeras.<br /><br />Em português existem as conhecidas traduções de Mario da Silva (Círculo do Livro, SP), que é uma das mais antigas (relançada pela Editora da Civilização Brasileira, RJ), a de Eduardo Nunes Fonseca (da Hemus - Editora, SP) e, finalmente, uma bem mais recente, feita por Pietro Nassetti (Editora Martin Claret, SP) que conseguiu fazer da sua tradução do "Zaratustra" uma excelente leitura. Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche (Editora Martin Claret, São Paulo, 1999, 255 págs., tradução de Pietro Nassetti).</div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-47549228149369014722007-12-15T16:29:00.000-02:002007-12-15T16:52:39.824-02:00A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM<div align="justify"><em><span style="color:#ff99ff;">"Was gross ist am Menschen, das ist, dass er eine Brücke und kein Zweck ist: was geliebt werden kann am Menschen , das ist, dass er ein Übergang und ein Untergang ist"<br /></span></em><br />"A grandeza do homem é ser ele uma ponte, e não uma meta; o que se pode amar no homem é ser ele uma transição e um ocaso." - F.Nietzsche - Assim falou Zaratustra, I,4</div><div align="justify"><br />Num primeiro momento da história espiritual do homem, pelo menos o de espírito sadio, ele não passa de um camelo, que, como o desgraçado animal, apenas ajoelha-se e agradece quando lhe dão uma boa carga. Carrega pelo deserto as culpas por ter nascido. Na sua humilde corcova avoluma-se as penas do mundo, sobrecarregado pelas regras morais e pelas imposições que lhe fazem, que lhe dizem - tu deves (Du-sollst!)! Porém, no deserto, isolado, dá-se uma transformação. O camelo vira um leão. É o espirito que, liberto, quer ser "o senhor do seu próprio deserto". Agora é ele quem, rugindo desafiante, responde - eu quero! (Ich will!). Se bem que o leão não consiga ainda criar os novos valores, ele pelo menos, assentado na sua força e vigor, sacode para fora a canga que afligia o pobre camelo. Dá-se então a derradeira transformação - o leão vira criança. Sim porque a criança é esquecimento, é um novo começo, é o embrião do super-homem que, ao crescer e desenvolver-se, "quer conseguir o seu mundo".<br /></div><div align="justify"><span style="color:#ffcccc;"><strong>O camelo (Kamele)</strong><br /></span>O espirito do homem na sua época religiosa e cordata, conforme com seu destino de animal de carga, submetido ao grande dragão. - Encontra-se sob o imperativo do "Tu deves!" </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong><span style="color:#ffcccc;">O leão (Löwe)</span></strong></div><div align="justify">A emergência do espirito de rebeldia. A insubordinação contra os valores tradicionais e contra as imposições morais e convencionais. - Afirma-se através do "Eu quero!" </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong><span style="color:#ffcccc;">A criança (Kind)</span></strong></div><div align="justify">A nova era que nasce. O tudo por fazer que se descortina numa nova situação, num mundo novo que se livrou do passado opressivo. - "Ele alcançará!"<br /><br /><strong><span style="color:#9999ff;">Os inimigos do profeta<br /></span></strong><br />Zaratustra é um celebrante da carnalidade, um pregador da vida vivida, da sensualidade, do prazer de dominar, ou do simples gozo em existir. É o grito do instinto sufocado! Por conseqüência, seus inimigos são os que detestam a vida, os "acusadores da vida" (Ankläger des Lebens), os que reprimem e condenam a volúpia, os que dizem que as pulsões humanas são artes do demônio, os que pregam o Outro Mundo, como os sacerdotes e os moralistas, que insistem em fazer com que o homem envergonhe-se do seu próprio corpo e das suas sensações, chamando-as inumanas, imundas e pecadoras.<br /><br />O profeta quer o diferente, o que se distingue, o que se vangloria, o altivo com justa razão, o indivíduo soberano e viril, não as massas que "trazem mau olhado à Terra". Suas palavras não devem ser "apanhadas por patas de carneiros". Logo todos os democratas, os pregadores da igualdade e correlatos, são seus adversários, os odiados inimigos. Pois o mundo "gira ao redor dos inventores de valores novos" (die Erfinder von neuen Werten dreht sich die Welt), da Personalidade Magnífica e não do homem comum, que vive discursando - "somos todos iguais perante Deus ". Ora, como deus morreu o homem superior ressuscitou da sua sepultura. É para ele que a luz do futuro brilha.<br /><br /><span style="color:#9999ff;"><strong>É tudo um só mundo</strong><br /></span><br />Não há para o profeta dois mundos, o de cá e o de lá, nem corpo separado da alma, nem bem nem mal. Tudo é uma coisa só. Carne é espirito, a terra também é céu, o mal também é o bem. O homem imaginou haver um além porque ele sonha, e no seu sonho - "vapor colorido diante dos olhos" - lhe aparecem fantasmas dos mortos e das coisas passadas, por isso ele, iludido, concebeu um Outro Mundo. Ingrato, ao invés de exultar com a existência recebida, percorre os céus com os olhos supersticiosos atrás de uma estrela, acreditando ir parar ao seu lado no futuro.<br /><br />Seguidor de Heráclito - que via o Cosmo um produto do agón, da luta -, Zaratustra assegurava que toda a batalha a ser travada é uma bem-vinda guerra terrestre na qual o super-homem (expurgando ou afastando de si os sentimentos caritativos e piedosos, afirmando-se sobre si mesmo com os valores que ele mesmo criou) se lançará na conquista do devir. Mas, adverte, antes do super-homem atingir esse futuro, haverá o crescimento do deserto - uma grande ameaça ao oásis onde se homiziava o homem superior.<br /><br /><strong><span style="color:#9999ff;">O filho de Zaratustra<br /></span></strong><br />No final do canto de Zaratustra (Parte IV - o sinal), depois do profeta ter dispensado os grandes dignatários (rei, imperador e o papa), não identificando neles os sinais do super-homem, ele projeta aquele que advirá. A sua nobreza não é resultado de títulos, nem de sangue. O Übermensch é o que irá superar o homem e, para tanto, já expurgou de si toda a fraqueza e vilania tão comum aos humanos. Ele não tem pejo em querer vingar-se, nem se envergonha em ter ódio, sabe que se almeja a alegria também terá que suportar o sofrimento. Mas nem os homens superiores que o profeta encontrou pelo caminho o satisfazem.<br /><br />"Pois bem!", disse ele, "estes homens superiores adormecem enquanto eu estou desperto. Não são os meus verdadeiros companheiros". O viajante (der Wanderer) após ter percorrido uma longa peregrinação, na qual esgrimiu-se em mil encontros e outros tantos percalços, recolheu-se de volta ao seu ermitério. Sentado na pedra em frente a gruta ele pede que cantem "Outra Vez", porque ele afirmava o Eterno Retorno das coisas. Tudo o que aconteceu nos remotos tempos voltaria a ocorrer - a história é um circulo não uma ascensão! Palavras como honra e nobreza certamente voltarão a reluzir.<br /><br /><strong><span style="color:#9999ff;">A hora de Zaratustra</span></strong><br /><br />Com seus cabelos embranquecidos eriçados pelos vôos dos pássaros, o sábio sentiu que o leão estendido aos seus pés recostara a cabeçorra dourada no seu colo, lambendo as lágrimas que escorriam pelas suas mãos. O vidente estava exausto. Afinal ele era um montanhista (ein Bergsteiger) que detestava as planícies. Meditando, Zaratustra foi tomado de súbita emoção. Sentiu-se maduro porque que soara a sua hora, a sua alvorada - o Grande Meio-Dia chegara. O anúncio, o sinal de que o super-homem estava por vir fez com que ele, lépido, aspirando somente a sua obra, deixasse a sua gruta. Assim como o alvorecer sai por detrás das montanhas escuras, ele saiu para ir receber o seu filho.<br /><br /><em><span style="color:#ffff66;">Dies ist mein Morgen, mein Tag hebt an: berauf nun, berauf, du grosser Mittag! - Also spracht Zarathustra, und verliess seine Höhle, glühen und stark, wie eine Morgensonne, die aus dunklen Bergen Kommt.</span></em></div><div align="justify"><em><span style="color:#ffff66;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="color:#ffff66;"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></span></em></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-84972453628408011232007-12-15T16:24:00.000-02:002007-12-15T16:27:42.975-02:00POR QUE ZARATUSTRA?<div align="justify">Zaratustra ou Zoroastro, fundador da religião persa, foi um profeta ariano que por volta de 600 a.C. pregou a existência do Bem e do Mal como entidades distintas e totalmente antagônicas (até então a crença geral era de que o mesmo deus era capaz de uma coisa, como a outra). É o autor dos Gäthäs, cinco hinos que formam a mais antiga e sagrada parte do Avesta, o livro santo do zoroastrismo. Nietzsche tomou conhecimento dele provavelmente por intermédio da obra de um erudito da época, inspirando-se então naquela fantástica personalidade.<br /><br />O motivo de um ateu assumido como Nietzsche ter lançado mão de um carismático líder religioso do passado, fazendo-o veículo da sua mensagem, deve-se a que o pensador alemão racionalmente e intelectualmente deixara de ser cristão, mas psicologicamente e emocionalmente ainda seguiu tendo a mente de um crente. Afinal, Nietzsche era filho de um pastor luterano. O que igualmente explica o tom de sermão da sua prosa, carregada de parábolas, simbolismos e imagens litúrgicas e locais sagrados, presentes na maioria dos capítulos do "Assim falou Zaratustra". A escolha também tratou-se de uma provocação, pois o Zaratustra ficcional dele retornou a cena exatamente para desfazer o que o real profeta ariano fizera há mais de dois mil e quinhentos anos passados, isto é, instituir a idéia do Bem e do Mal.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">O Anticristo<br /></span></strong><br />Zaratustra é pois um Anticristo. Ele não veio do deserto como Jesus Cristo, mas sim desceu do alto da montanha, do fundo da caverna, como viu Platão os filósofos emergirem em busca do sol, em busca da vida. Não se dirige aos pobres, ao humildes, aos doentes, aos perdidos e aos fracos, muito menos lhes promete o Reino dos Céus. Seu público é outro. É o dos vencedores, dos afirmadores da vida, os que querem viver o aqui e o agora, tendo a Terra como seu único reino. Arenga aos que desprezam! Desceu à planície para anular o cristianismo.<br /><br />A sua meta é atingir uma parte especifica da humanidade, os homens superiores (höheren Menschen), a quem Cristo ignorou. Zaratustra é sim um Cristo da elite, pois Nietzsche escreveu o evangelho do super-homem - o que anuncia um novo tempo, uma era em que Deus morreu (dass Gott tot ist!), na qual o Homem se apressa para assumir o poder na totalidade, na qual terá que arcar com as conseqüências morais e éticas de um mundo sem Deus.<br /><br />Para tanto, ele, o super-homem, operará a transvaloração. Tudo o que o cristianismo estigmatizara - o orgulho, o egoísmo, a riqueza, a vontade de poder, a sensualidade e a nobreza de espírito - deverá voltar a modelar e inspirar a humanidade. A resignação, a docilidade e o servilismo, por sua volta, serão sucedidos pela ação, pela inconformidade e pelo domínio - A lamúria do resignado, cederá lugar ao grito do forte!<br /><br />Os próprios símbolos que cercam Zaratustra, a águia e a serpente (meinen Adler und meine Schlange), antigas metáforas zoológicas do orgulho, da arrogância e da astúcia, contrapõem-se às do cordeiro e do peixe - os favoritos de Cristo - ícones da mansidão, da quietude e da simplicidade. Se Cristo pregou o Sermão da Montanha para os pobres de espirito, Zaratustra lança sua isca para alçar os destemidos. O seu é um Evangelho dos Fortes. Sua mensagem não é para todos, é para poucos.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Viver perigosamente</span></strong><br /><br /><em>"Ich seht nach oben, wenn ihr nach Erhebung verlangt. Und ich sehe hinab, weil ich erhoben bin. Wer von euch kann zugleich lachen und erhoben sein? Wer auf den höchsten Bergen steigt, der lacht über alle Trauer-Spiele und Trauer-Ernste."</em><br /><br />"Olhais para o alto quando aspirais elevar-vos. Eu, como já encontro-me acima, olho para baixo/ Quem entre vocês pode estar acima e ao mesmo tempo gargalhar? Aquele que escalou o mais elevado dos montes, ri-se de todas as tristezas encenadas da vida." - Zaratustra - da leitura e da escrita<br /><br />Enquanto Zaratustra pregava na ágora, a atenção da multidão desviou-se para o alto onde estava um equilibrista numa frágil corda. Um outro, um rival, afobando-se, terminou por precipitar-se no chão, estatelando-se agonizante bem perto do profeta. O desastrado homem, no seu estertor, acredita que agora o diabo o arrastará para o inferno. Confortando-o, Zaratustra diz-lhe: "Amigo - palavra de honra que tudo isso não existe, não há diabo nem inferno. Sua alma ainda há de morrer mais rápido do que seu corpo: nada tema". Quando o trapezista caído ainda se lamenta pela vida que levou "recebendo pancadas e passando fome", o profeta consolou-o respondendo: "Não, você fez do perigo sua profissão, coisa que não é para ser desprezada"( du hast aus der Gefahr deinen Beruf gemacht). Dito isso ele mesmo trata de sepultá-lo com suas próprias mãos.<br /><br />A cena do profeta tendo em seus braços um morto, é a "pietá" de Nietzsche. Este é o modelo de homem do profeta, o que compete, o corajosos que arrisca, o que diariamente vive na corda bamba, e que morre por isso mesmo, por levar uma vida perigosa (ein gefährliches leben).<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Os companheiros de Zaratustra</span><br /></strong><br />Como o povo (Volke) não lhe deu ouvidos, Zaratustra, resmungando "que me interessam a praça pública, o populacho e as orelhas cumpridas do populacho?", concluiu então que precisava de companheiros (Gefährten): os "que desejam seguir a si mesmos, para onde quer que eu vá". Afinal ele viera "para separar muitos do rebanho". Que tipo de companhia quer o profeta? Justamente os que "os bons e justos" mais odeiam - o que lhes despedaça os valores, o infrator, o destruidor - porque é esse o criador.<br /><br />Não são os negligentes nem os retardados que o seguirão, mas sim os inventivos, os que colhem e se divertem, os solitários e todos aqueles unidos pela solidão, interessados em escutar coisas inauditas - a marcha do profeta será a marcha deles. Assim é que sua oração dirige-se para os que estão atacados pela "Grande Náusea"(der grossen Ekel), o tédio de quem vive numa época em que o antigo deus morreu, mas que não existe ainda nenhum outro novo deus. Zaratustra veio para afastar deles a sombra dos deuses antigos que ainda escondem-se atrás das nuvens do presente. Veio para mostrar-lhes a verdadeira face da natureza, chegou par torná-la humana, para desmagizá-la.<br /><br />O que irritava sobremodo o profeta era o último homem (letzter Mensch), um teimoso, "inabalável como um pulga", que, segundo Heidegger, não queria "se desfazer da sua depreciável maneira de ser". Ao insistir em viver de acordo com os valores desaparecidos, em prender-se a um ídolo que já se fora, esse cabeça-dura continuava a freqüentar o santuário do deus caído em ruínas. Ali, nada mais achando nele, o estulto agachava-se, arrastava-se no pó, em meio aos cacos, atrás das cobras e dos sapos para adorá-los. </div><div align="justify"> </div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a><span style="font-family:times new roman;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-35730969312882826132007-12-15T16:13:00.000-02:002007-12-15T16:22:17.348-02:00NIETZSCHE, A CONSTRUÇÃO DO ZARATUSTRA<div align="justify"><strong><span style="color:#ccccff;">A quem Zaratustra procura<br /></span></strong><br /><em>"Der Mensch ist ein Seil, geknüpft zwischen Tier und Übermensch - ein Seil über eninem Abgrunde. Ein gefährliches Hinüber, ein gefäherliches Auf-dem-Wege, ein gefährliches Zurücblicken, ein gefärliches Schaudern und Stehenbleiben."<br /></em><br />"O homem é corda distendida entre o animal e o super-homem: uma corda sobre um abismo; travessia perigosa, temerário caminhar, perigosos olhar para trás, perigoso tremer e parar." - Nietzsche "Assim falou Zaratustra", 1883<br /><br />Meditando por dez anos numa caverna no alto de uma montanha, Zaratustra, apenas na companhia dos seus animais prediletos, a águia e a serpente, determinou-se baixar à planície. Decidira-se depois daqueles anos de rigor eremita vir comunicar aos homens a chegada de um novo messias, o Übermensch - o super-homem, o que dominará o futuro. Assim feito, Zaratustra enumera a quem sua mensagem se dirige:<br /><br /><strong><span style="color:#ccccff;">Os eleitos por Zaratustra<br /></span></strong><br /><em>- os que vivem intensamente, que são indiferentes aos perigos (welche nicht zu lebem wissen) porque são capazes de atravessar de um lado para outro;<br /><br />- os grandes desdenhosos (der grossen Verachtenden), porque estão sempre tentando chegar a outra margem;<br /><br />- aos que se sacrificam pela terra (die sich der Erde opfen);<br /><br />- o curioso, o que quer conhecer (welcher erkennen will);<br /><br />- quem trabalha e realiza invenções engenhosas (welcher arbeiter und erfinder);<br /><br />- o que preza a sua própria virtude (sein Tugen liebt);<br /><br />- aquele que distribui o seu espirito entre os demais (ganz der Geist seiner Tugend sein will);<br /><br />- o que deseja viver e deixar viver (willen noch leben und nicht mehr leben);<br /><br />- quem não seja exageradamente virtuosos, nem excessivamente moralista (welcher nicht zu viele Tugenden haben will);<br /><br />- aquele que não fica a espera de agradecimentos ou recompensas (der nicht Dank haben will);<br /><br />- o que não trapaceia (ein falscher Spieler);<br /><br />- o que se orgulha dos seus feitos (welcher goldne Worte seine Taten vorauswirft);<br /><br />- o combatente do presente (den Gegenwärtigen zugrunde gehen);<br /><br />- o que desafia e fustiga o seu Deus (welcher seinen Gott züchtig);<br /><br />- o de alma profunda (dessen Seele tief);<br /><br />- o de alma trasbordante, que esquece de si mesmo (sich selber vergisst);<br /><br />- quem tem o espirito e o coração livres (der freien Geistes und freie Herzen ist);<br /><br />- os vaticinadores, os que prenunciam o relâmpago próximo (dass der Blitz kommt, und gehn als Verkündiger zugrunde), um relâmpago que se chama super-homem (Übermensch).</em></div><div align="justify"><em></em> </div><div align="center"><em><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="center"><em><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></em></div></blockquote></span></em></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-66984813508693531702007-12-15T15:48:00.000-02:002007-12-15T15:55:35.154-02:00OS CINCO TERMOS CAPITAIS DE NIETZSCHE<div align="justify"><strong><span style="color:#ff0000;">Niilismo</span></strong> </div><div align="justify"><em>(Nihilismus)</em></div><em></em><div align="justify"><br />Expressão polivalente. Movimento intelectual e político do século XIX, e também expressão usada por Turgueniev para definir a descrença nas tradições religiosas e institucionais até então vigentes. Os crentes do Nada (do latim nihil) talvez fosse apropriado dizer, apesar de paradoxal ou contraditório. Assim classificaram-se os militantes do ateísmo, os anarquistas, os populistas russos, e todos aqueles que se empenhavam em desafiar as normas de comportamento e a duvidar ostensivamente da religião e da existência de Deus. Uma das marcas da modernidade.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Transvaloração</span></strong></div><div align="justify"><em>(Umvertung aller Werte)</em></div><em><div align="justify"><br /></em>Exigência da filosofia nietzschiana na recuperação dos valores nobres perdidos, fazer do "mau" voltar a ser "bom", elogiar o orgulho, a vaidade, a soberba e a arrogância humana, e até o desejo de vingança, desprezar o que é vil, o que é fraco, o que é humilde, o que recende à ralé. Inverter totalmente os valores éticos do cristianismo, reabilitando os antigos valores esgotados da cultura. De certa forma é a restauração do ethos pagão que girava ao redor do herói e do guerreiro intrépido.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Super-homem</span></strong><em> </em></div><div align="justify"><em>(Übermensch)</em></div><em><div align="justify"><br /></em>Teoricamente aquele que irá superar (Über) o homem. Um novo ser que, trazendo as novas tábuas, assumirá na totalidade a responsabilidade de viver num mundo ausente de Deus. Caracteriza-se por sua determinação absoluta, pela confiança em sua intuição, pelo seu caráter inquebrantável, por uma solidão ativa, corajosa, e sem concessões no tocante a sua meta (Werke). Ele é um criador, um duro, que não se deixa tomar pela compaixão, dele é o devir.<br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Vontade de potência</span></strong> </div><div align="justify"><em>(Wille zur Macht)<br /></div></em><div align="justify">Trata-se da pulsão permanente pela vida e pelo domínio. Requer a mobilização completa das energias, físicas e mentais, para incessantemente conduzir as coisas às últimas conseqüências. Wille zur Macht é o domínio e a superação de si, das debilidades, e, também domínio sobre os outros e sobre a natureza. A vontade liberta porque é criadora.<br /><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>Eterno retorno</strong></span> </div><div align="justify"><em>(ewige Widerkunft)<br /></div></em><div align="justify">Repto nietzscheano à idéia do progresso dos evolucionistas; à divisão em três etapas da história dos positivistas; à crença do cristianismo na salvação da alma, nascida em pecado e redimida pela graça. É uma retomada da concepção cíclica (ciklós) dos pitagóricos e dos estóicos que viam um eterno perecer e renascer da natureza e da história. Tudo que houve exaurido o Grande Ano, voltará a ocorrer, intermediado pelo fogo e pela destruição periódica.</div><div align="justify"> </div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><strong><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><strong>[</strong></span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><strong>http://educaterra.terra.com.br/</strong></span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><strong>]</strong></span></div></blockquote></strong></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-6117146916774035562007-12-15T15:33:00.000-02:002007-12-15T16:13:28.403-02:00NIETZSCHE FILÓSOFO<div align="justify"><strong><span style="color:#66ff99;">A filosofia mundana<br /></span></strong><br />Coube a Kant definir a existência de dois tipos de filosofia, a acadêmica (comprometida com um sistema de conhecimento racional, presa aos interesses específicos dos pensadores e dos profissionais), e a mundana, que abrange a todos, que não tem limites em suas ambições. A primeira, é antes de tudo um exercício técnico, professoral, a segunda, literário e ideológico, geralmente provocando enormes ressonâncias na sociedade. Evidentemente que Nietzsche preenche inteiramente o segundo quesito. A prosa dele poucas vezes recorre aos conceitos reconhecidos como "oficiais" da filosofia tradicional, quanto à terminologia científica ela quase sempre aparece nela oculta atrás de uma roupagem poética ou mesmo sacerdotal. Viu a filosofia não como uma atividade especulativa, um estiolado exercício intramuros feito por um especialista, apartado das coisas da vida, mas "uma procura voluntária" até das "coisas mais detestáveis e infames". Uma "peregrinação através dos gelos e do deserto" atrás de uma "história secreta", por meio de "um olhar diferente do que até agora se filosofou".<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">Uma filosofia para a ação<br /></span></strong><br />A filosofia dele não é apenas iconoclástica no sentido de propor a "quebra das tábuas" ou de apresentar uma outra leitura da tradição do pensar ocidental (quando, por exemplo, aponta Sócrates como "decadente"), também o é no sentido do próprio filosofar. Nada mais distante dele do que a recomendação estóica da ataraxia, a procura da quietude, do ócio reflexivo, do apartar-se das paixões. Ou ainda da recomendação de Spinoza para que a conquista do entendimento se faça sempre acompanhada de um não ao riso, ao deplorar e ao detestar.<br /><br />Ela, a doutrina nietzschiana, clama por movimento, é uma convocação a toque de caixa e clarim de todas a energias vitais do indivíduo superior, ela mesma é uma pulsão incessante. Neste sentido é anti-intelectualista por excelência. Ao acentuar o ato e não a reflexão ou a meditação (que aliás é uma prática abolida do seu receituário, por ter "sido posto em ridículo o cerimonial e atitude solene do que reflexiona"), privilegia o "experimental", como ele mesmo definiu sua filosofia (Vontade do Poder - 476). Se há indecisão entre Apolo e Dionísio, entre a razão e a emoção, ele recomenda seguir o deus das bacantes.<br /><br />Neste nervosismo para cumprir com a obra (com a qual todo seguidor de Nietzsche obrigatoriamente deve comprometer-se), "uma máquina em movimento contínuo", a racionalização torna-se um impedimento, um freio intelectual a ser desativado ou destravado. Não que a razão seja dispensada mas sim que ela apenas deverá servir como um instrumento da ação e não para atravancá-la. Pode-se dizer que os símbolos mais precisos do seu filosofar são a ponte (a travessia, o ir para o outro lado, o transcender), e o trapézio (a busca do perigo, do risco, de tentar viver no limite máximo das experiências possíveis), para fazer da vida uma grande aventura. Assim despreza os que acusam-no de fomentar a hybris, o excesso de ação, a falta de limites, o exagero.<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">Uma filosofia da solidão</span></strong><br /><br />Heidegger disse ter sido Nietzsche o primeiro a conceber metafisicamente o momento em que "o Homem se apressa a assumir o poder na terra na sua totalidade". Sobre esse novo homem, sobre esse super-homem, recaem pois todas a responsabilidades. Ele não tem mais para quem apelar tal como o último dos homens ainda fazia no santuário em ruínas do seu Deus morto. Logo, deve fazer crescer dentro de si forças vitais e existências extraordinárias: "Sobe, pensamento vertiginoso, sai da minha profundidade!"....<br /><br />"O meu abismo fala. Tornei à luz a minha última profundidade!"(Assim Falou Zaratustra, III, 1). Não poderá, esse espírito livre, ter contemplação com suas fraquezas, ter compaixão dos outros ou de si lhe é inominável. A palavra de ordem é endurecer! Fazer do seu interior, do corpo e mente, uma intransponível couraça, capaz de desviar de si o sentimentalismo e a piedade. Para Nietzsche, afinal, sempre pareceu inaceitável um Deus todo-poderoso que se deixasse levar por preces, ladainhas ou louvores, dos humilhados e ofendidos.<br /><br />Esse ser de Nietzsche tem um fim em si mesmo, ele é a fonte exclusiva da sua energia, ele é o seu próprio consolo porque, afinal, "Deus está morto!" Mas de onde extrair firmeza para o extraordinário desafio que é viver num mundo sem Deus? A que reservas humanas recorrer? Justamente aquelas, as mais ocultas, as que foram sufocadas pelos valores religiosos e pela racionalidade dos metafísicos, as virtudes do instinto, da preservação, da agressão, "o lado mais poderoso, mais temível, mas verdadeiro da existência, o lado em que sua vontade mais exatamente se exprime"(Vontade de Poder - 476). Deve-se explorar esse interiores, "nossas plantações e jardins desconhecidos" .. pois "somos todos vulcões esperando a hora da erupção"(Gaia Ciência, I,9). Esse titã solitário e viril, tal como um deus de si mesmo, busca então as alturas para fugir do ar empestado pelas multidões e pelo agito dos mercados, procurando lá em cima nas estratosferas a companhia das estrelas. É com ele que as águias se identificam.<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">O homem é um devir<br /></span></strong><br />Seguindo a lógica de Darwin, que via as espécies em luta permanente para manterem-se e adaptarem-se, afirmou que o homem "é um animal ainda não definido", é algo que ainda está em construção. Não obedecendo ao desígnio divino mas sim as suas pulsões e instintos de sobrevivência, de uma natureza humana que ama lutar, o homem faz a si próprio. Fazendo do agón, do combate, a sua razão de ser, até mesmo o conhecimento superior que adquire resulta de um duelo, provido que foi pela faísca resultante do entrechocar da espadas umas contra as outras. Ao redor dele tudo é um guerra civil, contra os outros e contra as adversidades em geral. Ele é um perpétuo superador de si mesmo.<br /><br />Portanto, ele não vê na Natureza uma mãe dadivosa e boa como Rousseau a imaginou, mas sim uma madrasta que ao mesmo tempo que lhe permite a vida é avara nas suas benesses: exuberante na sua licenciosidade mas mesquinha nos seus benefícios. Exatamente por isso, a conquista seja lá do que for tem um preço e um sabor incomparável. A decisão de enfrentar as coisas porém não é uníssona e nem traz resultados iguais. Alguns se decidem e vencem, os fortes; outros não, os fracos, os covardes. Merecem eles viver? Cabe à árvore da vida suportar em seus galhos esses frutos inúteis, bichados, estragados, sem esperar que nenhum vento salutar os abale e os derrube?<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">A psicologia de Nietzsche</span></strong><br /><br />A teoria do ressentimento como expressão dos vencidos da vida é uma apreciável, se bem que questionável, contribuição de Nietzsche à psicologia moderna. Tomou-a da leitura que ele fizera do "O homem do subterrâneo", de Dostoievski, um relato tortuoso de um misantropo neurótico. Se Hegel estruturou sua concepção da hierarquia social e da formação do estado a partir de um duelo primeiro, onde o vencido, para manter-se vivo aceitava ser escravo e reconhecia no vencedor o seu senhor (ver "Fenomenologia do Espírito", 1807), Nietzsche também irá remontar à esse hipotético duelo para extrair outras conseqüências.<br /><br />O embate dele se dá na Palestina no tempo da ocupação romana, quando a casta de sacerdotes judeus, impotentes em derrubar o conquistador, destilou para todos os lados o veneno do ressentimento. Tudo aquilo que era associado ao romano, o que era nobre, altivo, corajoso, passou a ser denunciado como "mau". Por outro lado, o que era vil, fraco e covarde, pareceu-lhes ser "bom". Dessa forma, por meio dessa sutil e corrosiva artimanha, deram começo ao trabalho de sapa visando atingir a solidez psicológica do vencedor. Passado algum tempo, os vencedores, os nobres romanos, minados por esse discurso dos cupins sacerdotais, deram-se por vencidos. Abandonaram ou abdicaram os seus princípios, o que até então lhes dava coragem, capitulando finalmente frente a barbárie invasora.<br /><br /><span style="color:#66ff99;"><strong>A linguagem do fraco</strong><br /></span><br />Havendo uma linguagem do forte, há por sua vez uma do fraco, uma linguagem do rebanho - a amarga retórica dos cativos. É dela que deve-se precaver. Há nela um evidente discurso do ressentimento, que atribui todas as desgraças do mundo e da sua vida aos outros. Incapaz de assumir a sua responsabilidade pessoal (atributo apenas dos fortes), seja lá no que for, o medíocre, o pequeno, o de " alma estreita", transfere a causa dos seus inúmeros fracassos e decepções a tudo o que está além e acima dele (em Deus ou no diabo, nos nobres, no senhor, no patrão, etc..). O sentimento melindrado do rebanho, expressão coletiva do ordinário e do baixo, volta-se então contra o que se destaca, para o excepcional, acusando-o com dedos numerosos e trêmulos de não ter fracassado e sucumbido na vida como os demais. Condena igualmente "as paixões que dizem sim": a altivez, a alegria, o amor do sexos, a inimizade e a guerra - enfim, "tudo o que é rico e quer dar, gratificar a vida, dourá-la, eternizá-la e divinizá-la - tudo o que age por afirmação". (A Vontade de Poder - 479)<br /><br />Interessa constatar que Nietzsche foi um arguto observador das terríveis mazelas e distorções psicológicas que a dominação de um ser humano sobre o outro provoca. De certa forma ele inverte o primado marxista de que as idéias dominantes são as da classe dominante. Para Nietzsche, ao contrário, são os dominadores que têm que precaver-se com as perigosas e debilitadoras idéias dos dominados, pervertidas que foram exatamente por terem sido de alguma forma oprimidos, o pegajosos lodo plebeu que tudo envolve, invade e abala.<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">Homem, um animal doente</span></strong><br /><br />O dominado, o pequeno, o plebeu, é um ser aviltado. Ele não tem palavra nem se guia pela verdade. Vive de estratagemas, quase todos bem longe do que poderiam ser considerados como dignos ou honrados. Isto, por sua vez, ira fazer com que Nietzsche denuncie a existência de um universo externo ao indivíduo superior, composto, acima dele, por um poderosos discurso moral, religioso e metafísico, repressor, e, abaixo dele, pelo ressentimento do rebanho, que faz com que as pulsões naturais, fonte das suas características maiores que alimentam o seu talento e o seu desafio, impossibilitadas de virem a se realizar, voltem-se para o seu interior, corroendo-o, aviltando-o, sufocando-o. E o que diz essa acusação opressora? Que tudo aquilo que percorre no íntimo do humano, que seus instintos e fantasias outras que lhe são sugeridas nos seus sonhos, são em geral pecaminosos, indignos, profanadores de uma pureza que ele deveria preservar para poder salvar-se. Que, dizem-lhe mais, a busca do ser bem dotado pela afirmação pessoal e pelo exercício legitimo das suas qualidades não passa de orgulho, de hybris, de ambição desmedida. O resultado disso, dessa crueldade para com a própria espécie, é que o homem, psicologicamente mutilado, "torna-se um animal doente". É um ser eternamente atormentado por ter que viver com uma carnalidade e sensualidade latente, exigindo coisas que ele sempre terá que negar, ocultar, contornar e sepultar, obrigando-o a rastejar frente a deuses que o julgam culpado.<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">Os negadores da vida</span></strong><br /><br />De certo modo, ainda que por outro ângulo ideológico, Nietzsche segue a tarefa da Ilustração no seu combate ao sacerdote. Não se trata somente de alguém que vive da exploração da superstição e da crendice dos simples, que quer manter o povo na ignorância para usufruir de prestigio e poder que a posição clerical lhe confere. O homem de preto para Nietzsche é algo ainda pior. É um inimigo da vida, ele persegue com denodo toda e qualquer forma de expressão de autenticidade, de criatividade, de sensualidade, denunciando-a como fruto do orgulho e da arrogância, tratando-as como uma perigosa manifestação do pecado. É, pois, toda uma cultura religiosa milenar, herdada dos mandamentos judaicos e do clericalismo romano, estruturada nos mandamentos do "Não!"( "Não invocarás ..não roubarás...não matarás, etc...), que deve ser denunciada em favor de uma doutrina da afirmação, que enfatize um altissonante "Sim!"<br /><br />Ele, o sacerdote, a pretexto de salvar a alma, é o responsável pela doença do homem. Com a morte de Deus, a existência do bem e do mal se volatilizou, a prédica religiosa não tem mais nenhum sentido. Mantê-la apenas prolonga o mal estar entre os humanos. Aconselhar, ainda assim a todos, a mansidão, a humildade, a tolerância e a caridade, só avilta ainda mais as gentes, além de envergonhar os homens de força e talento. Desconsiderando serem eles os portadores de uma exuberância animal, inibem ou mutilam a mais autêntica potencialidade criativa que possuem.<br /><br />Conclama assim que Jesus Cristo, martirizado na cruz, ícone da dor e do sofrimento, seja sucedido por Dionísio, o deus pagão da alegria, do delírio místico, que vem para celebrar e regozijar-se com a vida, e a coroa de espinhos que apresilhava a testa sangrada do galileu, substituída fosse pelos jocosos chifres do deus-bode dos velhos pagãos. Que, enfim, o inspirador da castidade, da abstinência e do jejum, desse lugar ao estimulador do frenesi, da sensualidade e do exagero. Em termos freudianos trata-se da libertação do id e do ego das imposições do superego.<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">A posição da filosofia de Nietzsche<br /></span></strong><br />Habermas, expondo o confronto que estabeleceu-se na Alemanha do século XIX entre as duas correntes opostas emergidas ambas da filosofia de Hegel, os hegelianos de esquerda, ou jovens hegelianos (Marx, Bauer, Hess, Ruge, etc..) e os de direita (Rosenkranz, Hinrichs e Oppenheim), viu em Nietzsche um repúdio e uma superação delas. Para os hegelianos de esquerda tratava-se de erigir uma nova sociedade que definitivamente ultrapassasse aquela em que viviam, para os de direita, ao contrário, apontavam a religião e o estado, como os únicos capazes de voltar a aglutinar uma sociedade civil ameaçada de dissolução. Perfilou-se deste modo aquilo que Moses Hesse chamou de "o partido do movimento" e o "partido da permanência". Para muitos pensadores, Hegel é considerado o paradigma da filosofia alemã moderna.<br /><br />Frente a esse verdadeiro cabo-de-guerra entre a revolução e o conservadorismo, que dominou o cenário alemão da época de Bismarck, Nietzsche, rejeitando o radicalismo revolucionário bem como o imobilismo reacionário, dedicou-se a um trabalho de sapa para abalar os fundamentos deles, negando-se a aceitar fosse o governo da massas como o regime dos reis. A síntese disso foi o super-homem que, simultaneamente, afastava-se das multidões e dos socialistas e desconsiderava os sacerdotes e os monarcas.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Partido do movimento</span></strong></div><div align="justify">Jovens hegelianos que pretendiam converter a filosofia numa prática capaz de conduzir a sociedade ao socialismo e ao igualitarismo </div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong><span style="color:#33ffff;">Nietzsche e o neo-romantismo</span></strong> </div><div align="justify">Opõe-se a ambos , reservando ao super-homem um papel de dupla superação, da revolução e da reação</div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong><span style="color:#33ffff;">Partido da permanência</span></strong></div><div align="justify">Hegelianos de direita, que apenas desejam manter a dinâmica da sociedade burguesa, desde que ela não corroesse os primados sagrados da religião e do estado. </div><div align="justify"></div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;"><span style="font-family:times new roman;"><blockquote><span style="font-family:times new roman;"><span style="font-family:times new roman;"><blockquote><span style="font-family:times new roman;"><blockquote><span style="font-family:times new roman;"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a></span></span><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></blockquote></blockquote></span></span></span></blockquote></div></span>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-37373934513735328912007-12-15T15:22:00.000-02:002007-12-15T15:31:53.431-02:00NIETZSCHE E DOSTOIÉVSKI<div align="justify"><strong><span style="color:#ff6600;">Do homem-deus ao super-homem<br /></span></strong><br />Os privilégios do homem excepcional. "[...] é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios. Neste sentido, tudo é permitido [...] Como Deus e a imortalidade não existem, é permitido ao homem novo tornar-se um homem-deus, seja ele o único no mundo a viver assim." - F. Dostoiévski - O diálogo com o demônio (in Irmãos Karamazov, 1879)<br /><br />O jovem estudante Raskolhnikov angustiava-se no seu pequeno quarto, na verdade uma gaiola desbotada que o sufocava. Ali matutava como um ser dotado de inteligência reconhecidamente superior, como a dele, estava reduzido àquela vida miserável, sem tostão e sem futuro enquanto que, naquela mesma cidade de São Petersburgo, a capital do império russo, à bem poucas quadras dali, uma velha usurária, chamada Aliona Ivanovna podia entregar-se livremente à exploração de desgraçados como ele.<br /><br />Porque não eliminar aquele ser parasitário, inútil, e utilizar-se do seu dinheiro para sair daquela situação apremiante, salvando também sua mãe e sua irmã, reduzidas ao opróbrio? Foi nestas circunstâncias terríveis que o jovem estudante desenvolveu sua doutrina do "direito ao crime", na qual todo aquele que se sente além das convenções tradicionais acerca do bem e do mal, que percebe-se mais forte do que os demais homens, na verdade tem "direito a tudo", inclusive o direito de eliminar os que considera estorvantes e prejudiciais ao seu objetivo, pois o homem extraordinário deve, obediente às exigências do seu ideal, "ultrapassar certas barreiras tão longe quanto possível".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O surgimento do homem-idéia<br /></span></strong><br />Esta é a essência da novela que F. Dostoiévski publicou em 1867 com o título de Crime e castigo. Uns anos depois ele manifestaria ainda seu fascínio por este tipo de personagem, pelo homem-idéia, pelo ateu que vive de acordo com suas próprias regras, indiferente ao sofrimento que suas ações possam provocar. Esse personagem típico da era moderna reaparece em Os demônios, de 1870, nas roupagens do jovem aristocrata, o barin Nikolai Stavroguin. Como líder de um grupo subversivo (acredita-se que esse personagem tenha sido inspirado no terrorista Netcháiev) que conspira contra as autoridades no seu lugarejo natal. Para atingir seu fim de atacar a ordem social todos os caminhos são válidos, inclusive o premeditado e brutal assassinato de um jovem conjurado arrependido. Tempos antes, quando morava na capital, Stavroguin não hesitou em praticar pequenos roubos e em molestar sexualmente uma menina.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">"Se Deus não existe....."<br /></span></strong><br />Pouco antes de morrer, Dostoiévski voltou novamente ao homem-idéia pois entendia-o como a encarnação maléfica das pulsões modernas; o ateísmo, o liberalismo, o socialismo e o niilismo, que ameaçavam sua Santa Rússia ortodoxa. Desta vez esse personagem ressurge nos Irmãos Karamazov, de 1879, na figura do filho mais velho de Fiodor Karamazov, Ivan. O pai, o velho Karamazov, um incorrigível libertino, um canalha completo, terminou assassinado por um servo, seu filho bastardo, chamado Smerdiakov, que confessa a Ivan que o que motivou para o crime foi um artigo que soube ter ele escrito no qual defendia a idéia de que "se Deus não existe, tudo é permitido".<br /><br />Na inexistência de um Criador, de um grande ser moral, o homicida Smerdiakov não se via um degenerado, nem mesmo um abominável parricida, mas sim um daqueles homem-deus aos quais tudo é possível. Aterrorizado pela confissão do seu meio-irmão, atacado por culpas mil, Ivan mergulha numa febre nervosa em que, em meio a uma alucinação, até o demônio dialoga com ele.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O ser ideológico</span></strong><br /><br />Dostoiévski foi o primeiro grande nome das letras do século passado a perceber a emergência do moderno homem-idéia, dos seres ideológicos, os quais vivem, matam e morrem em função de uma causa desvinculada de injunções religiosas. Como cristão convicto, chegando por vezes ao fundamentalismo, tentou combatê-los fazendo com que, em seus romances, eles se vissem atacados por terríveis dilacerações depois de terem cometido seus crimes, mostrando-os vítimas de delírios, de convulsões, tendo sua vida transformada num inferno. O jovem Raskolhnikov entrega-se à polícia e, na prisão, dá os primeiros passos para reencontrar-se com o Cristianismo. Nikolai Stavroguin, deixando uma impressionante confissão, suicida-se, enquanto que Ivan Karamazov simplesmente enlouquece, arrasado pelas conseqüências do seu artigo ateu.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Nietzsche e o super-homem<br /></span></strong><br />Nietzsche, porém, um confesso admirador de Dostoiévski, quase no mesmo momento em que o grande russo baixava à sepultura, em 1881, chegou à conclusões totalmente opostas ao grande russo quando iniciou a redação de Assim falou Zaratustra. A sua concepção de super-homem parece-me extraída diretamente daquelas novelas.<br /><br />Ateu militante, Nietzsche tirou as conseqüências últimas do homem-deus, não visualizando para ele nenhum grande tormento caso ele seguisse o seu ideário até o fim. Ao contrário, previu e enalteceu o homem-idéia que, em função da sua causa seria uma máquina de insensibilidade, trafegando, altaneiro, bem acima dos preceitos morais do seu tempo. Fazendo novas regras restritas a uma elite, o Übermensch teria seu comportamento a amoral regulado apenas pela sua inata vontade de domínio - Wille zur Macht - e por uma compulsiva sede de vida.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Uma nova ordem</span></strong><br /><br />Uma nova casta se formaria em torno de princípios e identificações comuns, uma nova Ordem dos Templários, composta por seres que não só "saibam viver mais além dos credos políticos e religiosos, senão que também hajam superado a moral." Podiam fazer o que lhes desse na telha, sem receio de qualquer tipo de punição supersticiosa. Nietzsche, antes de Freud, aboliu o pecado.<br /><br />E assim foi feito. Os homens-idéia do nosso século, os nazi-fascistas, os comunistas, os liberal-imperialistas, transformaram nosso mundo numa grande arena ideológica, eliminando dela tudo aquilo que, em algum momento, lhes pareceu adverso, dissidente, parasitário, bizarro, nocivo, atrasado ou banal... a maioria deles sem esboçar um remordimento sequer. Nietzsche, em essência, nada mais fez do que transpor para a filosofia o discurso do demônio relatado por Dostoiévski, o que não lhe causou nenhum constrangimento moral, porque, afinal, se Deus não existe, também não há Satanás.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Nietzsche internado<br /></span></strong><br />Consta que Nietzsche foi internado depois de um estranho acidente em que se envolveu em Turim, em janeiro de 1889. Ao ver da sua janela um pobre cavalo ser brutalmente espancado pelo dono, interpôs-se entre o carroceiro e o animal, envolvendo-o com um abraço, beijando-lhe o focinho em lágrimas. Repetia, inconscientemente, a cena descrita no sonho de Raskolhnikov; quando aquele, ainda criança, enlaça e beija a carcaça ensangüentada de uma égua brutalizada por um bando de bêbados. Foi a última homenagem de Nietzsche, já demente, fez à ficção de Dostoiévski. Conduziram-no primeiro para um sanatório na Basiléia, do qual foi removido para Naumburg, aos cuidados da mãe. Em 1897, com ela morta, sua irmã Elizabeth levou-o para Weimar, onde faleceu em 25 de agosto de 1900.</div><div align="justify"> </div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-62014378777911996722007-12-15T15:14:00.000-02:002007-12-15T15:20:55.373-02:00EM DEFESA DA CULTURA<div align="justify">Friedrich Nietzsche estava se recuperando em Basiléia, na Suíça, de uma doença que o atacara na Guerra Franco-Prussiana de 1870 (ao prestar serviço de assistência aos feridos do exército alemão), quando chegou-lhe uma terrível notícia. Em março de 1871 a população de Paris havia se rebelado contra o governo derrotado. Pior, os operários estavam pondo fogo nos grandes prédios públicos e depredando as obras de arte espalhadas pela capital francesa, entre elas a bela Coluna de Vendôme. Era a Comuna de Paris que havia sido proclamada no dia 18 de março de 1871, que se tornaria um dos mais violentos levantes populares da Europa do século XIX.<br /><br />Foi um choque para ele. Ainda estonteado pelas informações que recebera, refugiou-se na casa do historiador da cultura Jacob Burckhardt (1818-1897), o célebre helenista e historiador da cultura, pesquisador da Itália renascentista, que igualmente estava desconsolado. Acreditaram os dois amigos que toda a arte ocidental estava ameaçada. Séculos de beleza estavam em vias de ser totalmente devastados pelo vandalismo das massas parisienses revoltadas.<br /><br />Os episódios da Comuna de Paris foram fundamentais para o acirramento das posições políticas de Nietzsche. Onde Karl Marx viu um momento de bravura popular, Nietzsche identificou o surgimento de uma nova barbárie que era preciso deter a qualquer custo. A Comuna será, pois, o ponto de partida para uma série de escritos que ele desenvolveu ao longo dos próximos vinte anos seguintes e que o colocaria ao lado dos antidemocratas, dos anti-socialistas, e contra todo e qualquer tipo de pregação que visasse a igualdade, tornando-o um apologista da distinção.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Nietzsche como Anticristo<br /></span></strong><br />O ataque direto que Nietzsche desencadeou contra o cristianismo radicalizou-se com o seu "O Anticristo" (Der Antichrist), mas foi inicialmente exposto na A genealogia da moral (Zur Genealogie der Moral), de 1887. Argumentou que a ética cristã era uma moral de escravos, de gente fraca e vil que havia, através do cristianismo, desvirilizado o espírito senhorial e dominante dos aristocratas. A origem desse processo, segundo Nietzsche, remontava à aos tempos da Palestina ocupada pela raça romana, raça de senhores. Os judeus, impotentes em poder livra-se deles, terminaram por aperfeiçoar a psicologia do ressentimento provocando uma inversão dos valores. Tudo aquilo que era "débil", "humilde", "medíocre", eles apresentaram como "bom", enquanto palavras tais como "nobreza', "honra", "valor", foram vistas como "mal". O resultado desse trabalho de sapador, feito por séculos de pregação cristã, foi o enfraquecimento das energias vivificantes da sociedade ocidental, especialmente das suas elites, na medida em que o "doentio moralismo ensinou o homem a envergonhar-se de todos os seus instintos".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A rebelião dos escravos<br /></span></strong><br />A rebelião dos escravos na moral se deu devido a sua impotência para destruir com a escravidão (ou o seu avalista, o poder romano). A nova religião - o cristianismo - tornou-se o instrumento deles para canalizar o seu ódio impotente, um "ódio que tinha a contentar-se com uma vingança imaginária". O produto desse ressentimento foi fazer com que os escravos, a "raça inferior e baixa", tornassem tudo aquilo que fosse digno e nobre em algo pecaminoso. Transformaram a prostração e a pobreza em virtude, e a abjeta covardia de dar o outro lado da face em caso de agressão, num ato sublime de perdão.<br /><br />Via, portanto, o cristianismo como uma doença maligna que havia atacado o Império Romano, contribuindo para que ele sucumbisse vitimado por uma espécie de "febre das catacumbas". E, pior, "a mentalidade aristocrática foi minada até o mais profundo de si própria pela mentira da igualdade das almas; e se a crença na prerrogativa da maioria faz e fará revolução - é ao cristianismo que devemos sua difusão. São os juízos de valores cristãos que qualquer revolução vem transformar em sangue e crime. O cristianismo é uma insurreição do que rasteja contra o que tem elevação: O Evangelho dos pequenos tornado baixo".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A volta às energias aristocráticas<br /></span></strong><br />Portanto, os nossos conceitos de bem e de mal eram estratagemas dos derrotados, que fizeram a façanha de substituir os valores superiores da nobreza. Dessa forma retiraram dela, enternecendo-a com rogos de piedade, a seiva necessária para aplicar uma política de mão firme para conter esse moderno movimento neobárbaro, cuja carantonha havia emergido na Comuna de Paris de 1871. O socialismo não passava de um "cristianismo degenerado [...] o anarquista e o cristão vêm da mesma cepa [...]". Era preciso, pois, primeiro, expurgar de si esta moral de gente covarde. Retornar às fontes de energia aristocráticas, aplicar uma política da impiedade, onde somente o mais nobre e o mais viril fosse tomado em consideração.<br /><br />"Deus está morto!" Foi sua mais célebre proclamação. Como conseqüência, os homens deveriam buscar valores que transcendessem a moral convencional divulgada pelo cristianismo; um retorno "à ordem de castas, à ordem hierárquica [...] para a conservação da sociedade, para que sejam possíveis tipos mais elevados, tipos superiores - a desigualdade dos direitos é a condição necessária para que haja direitos". Concluiu dizendo: "Quais são aqueles que mais odeio no meio da canalha dos nossos dias? A canalha socialista, os apóstolos [...] mirando o instinto, o prazer, o contentamento do trabalhador no seu pequeno mundo - que o tornam invejoso, que lhe ensinam a vingança [...] a injustiça nunca reside na desigualdade dos direitos, ela está na reivindicação de direitos iguais".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Nietzsche e a História<br /></span></strong><br />Nietzsche rompeu também com a relação entre a Filosofia e a História que havia sido estabelecida por Hegel, entendida esta última como uma crônica da racionalidade. Considerava que "o excesso de história" parecia "hostil e perigoso à vida", limitador da ação humana, inibindo-a. Devia-se ousar, avançar perigosamente para o ilimitado, porque a racionalização histórica levava o homem a "perder-se ou destruir seu instinto fazendo com que ele não ouse soltar o freio do 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos. O indivíduo torna-se então timorato e hesitante e perde a confiança em si..." terminando por fazer com que "a extirpação dos instintos pela história transforma os homens em outras tantas sombras e abstrações."<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Instinto contra a Razão</span></strong><br /><br />Nietzsche recolocou claramente o confronto outrora posto pelos românticos quando opunham os instintos - geralmente entendidos como uma manifestação da pureza e autenticidade humana - à razão, símbolo do utilitarismo cinzento e materialista.<br /><br />Opunha-se, como conseqüência, à idéia de que os acontecimentos históricos ensinavam os homens a não repeti-los, defendendo a teoria do eterno retorno, de remota inspiração na filosofia pitagórica e na física estóica, que compreendia a aceitação de periódicas destruições do mundo pelo fogo e seu ressurgimento. Desta forma, não só tudo poderia acontecer novamente como tudo poderia ser tentado outra vez.<br /><br /><span style="color:#ff6600;"><strong>Em busca do super-homem</strong></span><br /><br />A idéia da necessidade da formação de uma nova elite - não contaminada pelo cristianismo e pelo liberalismo - e que ao mesmo tempo os transcendesse, acometeu Nietzsche desde muito cedo. Pode-se dizer que já pensava assim nos seus tempo do internato em Pforta. Já naquele tempo mostrou-se obcecado pela formação de uma seleta falange intelectual responsável pela transmutação de todos os valores, cuja obrigação e dever maior era a proteção de uma cultura superior ameaçada pela vulgaridade democrática.</div><div align="justify"> </div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-29406354887418229702007-12-15T15:04:00.000-02:002007-12-15T15:11:20.246-02:00A MORTE DE DEUS<div align="justify">O século XX foi o século da morte de Deus. Não só a ciência desprendeu-se definitivamente de qualquer apelo ao sobrenatural, como a maioria das constituições políticas dos novos regimes que surgiram afirmaram sua posição secular e agnóstica, separando-se das crenças. Chegou-se até ao radicalismo soviético que pronunciou-se como um Estado ateu. Se bem que a religião ainda constitui um poderoso fator de mobilização das massas e um, até agora, insubstituível apoio ético e moral, deve-se reconhecer que as elites modernas deram as costas a Deus. Mas esse gigante da religião, da teologia e da imaginação prodigiosa dos homens não morreu de uma vez só. Foi morto aos poucos ao longo do século XIX, de Laplace a Nietzsche.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Deus, uma hipótese descartável </span></strong><br /><br />Para Laplace, Deus é uma hipótese desnecessária. Ao enviar a Napoleão Bonaparte uma cópia do seu trabalho Méchanique céleste (A Mecânica Celeste, 5 vols., 1799-1825), o matemático Laplace, quando questionado pelo imperador sobre o papel de Deus na criação, respondeu que "Je n'avais pas besoin de cette hypothèse-là", que ele não necessitara da hipótese da existência de Deus para edificar a sua teoria do sistema solar. Com isso, com tal declaração arrogante, que fez o gosto e deliciou Napoleão, aquele expoente maior da física do Iluminismo rompia definitivamente com os elos dos seus predecessores Galileu e Newton, que ainda ligaram o Todo-Poderoso à formação do cosmo e à sua preservação.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Um Cristo humano</span></strong><br /><br />Se, no século XVIII, a Revolução de 1789 e a moderna ciência francesa davam início ao banimento de Deus, na Alemanha a pregação pelo afastamento do Todo-Poderoso das coisas do mundo se fez pela verve da filosofia e, pasme-se, pela própria teologia. Kant, com a sua doutrina agnóstica, que afastou as coisas da fé de qualquer provável entendimento racional (fé e razão atuam em esferas distintas, inconciliáveis), abriu caminho para que a geração seguinte de cientistas e pensadores passassem à crítica direta da religião. Sintoma disso foi a humanização crescente da figura de Jesus, como deu-se na obra de David F. Strauss, um teólogo. No seu Das Leben Jesu (A Vida de Jesus, 2 vol., 1835-36), identificou a vida de Cristo com a teoria do mito, entendendo o Evangelho como algo historicamente datado, afastando qualquer elemento sobrenatural dela. Linha que foi seguida na França pela monumental obra crítica de Ernst Renan, que a partir da Vie de Jésus (A Vida de Jesus, de 1863), que se estendeu por dezessete anos, até 1880 quando a encerrou com Marc Aurèle et la fin du monde antique (Marco Aurélio e o fim do mundo antigo), apresentando a mais completa interpretação até então concebida da história do Cristianismo na ótica do positivismo.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Deus é alienação<br /></span></strong><br />Para Feuerbach, Deus é alienação. O passo seguinte ao do doutor Strauss, ainda na Alemanha, foi dado em 1841 por Ludwig Feuerbach com a publicação do Das Wesen des Christentums (A essência do cristianismo), onde assegurou ser Deus uma projeção dos desejos de perfeição do homem. Vivendo em meio a infelicidade e na insegurança do sentimento de morte, os humanos idealizavam um reino perfeito nos céus, onde serão eternamente felizes e imortais. Era a alienação do homem que criara a crença no Ser Supremo, sentindo-se depois oprimido por ele. O mesmo fenômeno diria Marx (outro "matador de Deus"), engendrara a sociedade capitalista moderna, onde o Capital manipula os burgueses e oprime o proletariado. </div><div align="justify"></div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"></span> </div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-7703512759089021982007-12-15T14:58:00.000-02:002007-12-15T15:03:42.524-02:00NIETZSCHE E A DECADÊNCIA<div align="justify">Nietzsche, morto em 1900, nunca sentiu nenhuma simpatia pela democracia. Ao contrário, considerava-a um regime cuja presença em qualquer país já prenunciava uma irreparável decadência. Como sintoma disso, da decomposição dos valores superiores que fizeram a glória da cultura ocidental, ele apontou o verdadeiro culto, que na moderna sociedade - envenenada pelo cristianismo e pelo liberalismo dos medíocres - presta aos fracos, aos fracassados e aos insanos. A compaixão para com o que é débil e enfermo pareceu-lhe o sinal mais agudo da decomposição de uma cultura que outrora fora superior.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A vontade de poder</span></strong><br /><br />Foi Elizabeth Föster-Nietzsche, a irmã do pensador, tutora do espólio dele conservado no Nietzsche-Archiv em Weimar, quem organizou e deu a forma final, em 1901, um ano depois da morte do pensador, ao volume do Der Wille zur Macht, a Vontade de Poder. Nada mais era do que uma enorme coleção de aforismos, bem mais de 600, alguns alcançando a medida de uma página, que ele tentou distribuir em quatro livros, com um conjunto de escritos um tanto desconexos que ele decidira juntar num livro só. Porém o definitivo acesso de demência que o acometeu em Turim, em 1889, impediu-o disso. O livro pode perfeitamente ser considerado como o testamento político e filosófico de Nietzsche (se bem que a seleção que ela fez foi muito criticada pelos especialistas e pelos críticos e outros admiradores de Nietzsche) e igualmente a suma derradeira de tudo o que ele escrevera até então. É de alguns dos seus aforismos, especialmente o de número 389, e de alguns mais, que extraiu-se o que se segue e que ele chamou de "a corrente descendente".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A mudança do centro da gravidade<br /></span></strong><br />Nietzsche, como ideólogo contra-revolucionário, responsabilizava o clima geral de decadência, que ele sentiu generalizar-se na sua época, aos eventos da revolução francesa de 1789. Momento em que, segundo ele, a equivocada idéia de igualdade estabeleceu direitos comuns a todos, deixando-se a Europa levar pela "superstição da igualdade entre os homens". A era moderna, por conseguinte, nascia sob o signo de um grande equivoco, responsável único pelas enormes modificações no universo social e cultural. Para ele, a decadência do mundo moderno facilmente se verificava pelo fato do centro da gravitação ter-se deslocado da personalidade aristocrática (*) - do homem de exceção, ser extraordinário e raro - , para uma órbita plebéia, concentrada no tipo comum, ordinário, dominada pela alma do rebanho, onde reinava o medíocre, o filisteu, o fracote, o doente. Logo, a ascensão das massas, tão celebrada e enaltecida pelos progressistas de todas as tendências e pelos políticos liberais-radicais do século XIX, não passava para ele de um sintoma da profunda crise geral da civilização européia.<br /><br />(*) <span style="color:#ffff33;"><em><strong>Aristocrático aqui entendido no sentido que Aristóteles deu a esta palavra: o melhor, não necessariamente o de descendência nobre, o de sangue azul.</strong></em> </span></div><div align="justify"> </div><div align="center"><blockquote><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></blockquote></div><div align="justify"> </div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-78239533120340225142007-12-15T14:46:00.000-02:002007-12-15T14:55:07.465-02:00ESCULPINDO O INDIVÍDUO<div align="justify"><strong><span style="color:#ff6600;">Em busca do indivíduo</span></strong><br /><br />Quem seria doravante o novo evangelista, o que sairia pelo mundo afora anunciando a chegada dos novos tempos e sendo ele mesmo o novo símbolo disso? Visto que o sacerdócio se esclerosara ou se exaurira durante a grande expansão ocidental, era preciso que alguém o sucedesse. As respostas foram, como não podia deixar de ser, múltiplas e contraditórias. Pensadores, filósofos, homens de letras de todas as latitudes, lançaram-se, cada um ao seu modo e de acordo com sua veneta, a descrever esse novo "animal-político" que, segundo eles, seria o novo paradigma do homem ocidental do futuro.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O Homem do Renascimento</span></strong><br /><br />Jacob Burckhardt, por exemplo, o historiador da cultura, encontrou-o na figura do homem do renascimento, um tipo idealizado que emergira da complexidade da vida política peninsular e da economia mercantil avançada que a Itália possuía à época da Renascença. Para Burckhardt todas estruturas da Itália daquela época funcionaram para ressaltar e proporcionar a ascensão do indivíduo extraordinário: do tirano sem escrúpulo (como César Borgia), do aventureiro-artista (como Cellini), do condottieri (com Don Corleone), o comandante de mercenários, ou ainda o escritor satírico que sozinho, com sua pena corrosiva aterrorizava o mundo do poder (como Aretino o fez). Em suas palavras:<br /><br />"Foi a Itália, a primeira a rasgar o véu e a dar sinal para o estudo objetivo do estado e de todas as coisas do mundo; mas, ao lado desta maneira de considerar os objetos, desenvolve-se o aspecto subjetivo: o homem torna-se indivíduo espiritual e tem consciência deste novo estado...[tal como] se elevara o Grego em face ao mundo bárbaro. (...)No século XIV, a Itália quase não conhece a falsa modéstia e a hipocrisia. Ninguém tem medo de ser notado, de ser e aparecer diferente do comum dos homens." (Jacob Burckhardt - A Civilização da Renascença italiana, especialmente na IV parte)<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Um titã a serviço do Progresso</span></strong><br /><br />Para o Conde Saint-Simon (no "Do sistema industrial", 1820) e seus seguidores, particularmente para Prosper Enfantin, este novo elemento responsável por transformações radicais seria o capitalista empreendedor e inovador - o capitão da industria que com arrojo e visão destemida, descortinava, graças ao avanço da ciência e a expansão da tecnologia, um quadro de progresso para a humanidade através de obras espetaculares (tais como as de Ferdinand Lesseps, que abriu para a navegação o Canal de Suez, em 1869). O herói saint-simoniano era um titã de carne e osso, lidando com finanças, liderando forjas de aço e colossais empreendimentos espalhados por um mundo ainda a ser conquistado, ao mesmo tempo em que, cartesianamente, domava a natureza ao seu redor. Detestando o parasitismo da aristocracia e do clero, ele também deveria "retificar as linhas fronteiriças do bem e do mal". Esse moderno Messias do Progresso, do "iniciador científico", do implantador da "sociedade industrial", não leva de maneira uma vida imaginativa ou sentimental, senão que "uma sucessão de experiências". Para tanto ele devia seguir algumas regras que o habilitem a levar uma vida produtiva e criativa:<br /><br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">Regras do saint-simoniano<br /></span></strong><br /><em><span style="color:#66ff99;"><strong>1º -</strong></span> Levar, enquanto ainda dotado de vigor, uma vida a mais original e ativa possível<br /><br /><span style="color:#66ff99;"><strong>2º -</strong></span> Inteirar-se cuidadosamente de todas as teorias e de todas as práticas<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">3º -</span></strong> Recorrer a todas as classes sociais e colocar-se pessoalmente em cada uma delas, mesmo as mais diferentes, chegando inclusive a criar relações que não existiram antes<br /><br /><strong><span style="color:#66ff99;">4º -</span></strong> Empregar a velhice em resumir as informações coletadas sobre os efeitos que resultaram das suas ações, para estabelecer novos princípios sobre a base deles<br /></em><br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O Niilista revolucionário<br /></span></strong><br />Destoando desses modelos, que afinal enalteciam as Artes e o Progresso, um novo tipo de indivíduo começou a ser esboçado pela intelligentsia russa na século XIX. O herói niilista, o raznochintsy, o tipo fora da classificação social conhecida, que elegia, inspirado na filosofia do romantismo alemão e no socialismo francês, a entrega total a uma causa como a razão do seu destino. Ele desprezava os valores em que vivia, elegendo o nada (niil) como ponto de afirmação e de partida.<br /><br /><span style="color:#ff6600;"><strong>Origem literária</strong></span><br /><br />Literariamente ele tornou-se um personagem fascinante desde que apareceu na pele de Bázarov, na novela "Pais e Filhos" de Ivan Turguéniev, em 1862, e principal responsável pela difusão da palavra "niilista". Dostoievski, a seguir, apresentou-o como um radical que colocava-se acima da lei e de tudo o mais, acreditando-se superior e com "direito ao crime", como o seu personagem Raskhólnikov, no celebrado romance "Crime e Castigo", de 1867. Um lobo solitário que rondava a sociedade aristocrática ou burguesa, imaginado mil maneiras de levá-la a destruição, sempre pronto a apresentar planos de regeneração social através da violência individual ou revolucionária. A arte para ele, assim como estava, manifestação do supérfluo, só servia às classes cultas. Era preciso engajá-la, fazer dela um instrumento de emancipação dos povos agrilhoados. Só assim ela teria uma razão de ser.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O niilista, um perdido<br /></span></strong><br />Acredita-se que a forma mais extremada desses niilistas foi assumida pelo terrorista Sérgio Netcháiev (um seguidor de Bakunin, que, entusiasmado disse dele "São magníficos esse jovens fanáticos, crentes sem deus, heróis sem frases"). Ele, juntamente com Tkachév, expôs no "Programa das ações Revolucionárias", de 1869, uma verdadeira cartilha do terrorista, o ideal do comportamento niilista.<br /><br /><br /><strong><span style="color:#ffff33;">O Catecismo do Revolucionário<br /></span></strong><br /><em><span style="color:#ffff33;"><strong>1 -</strong></span> O revolucionário é um homem perdido. Não tem interesses próprios, nem causas próprias, nem sentimentos, nem hábitos, nem propriedades; não tem sequer um nome. Tudo nele está absorvido por um único e exclusivo interesse, por um só pensamento, por uma só paixão: a revolução.<br /><br /><strong><span style="color:#ffff66;">2 -</span></strong> No mais profundo do seu ser, não só de palavra, mas de fato, ele rompeu todo e qualquer laço com o ordenamento civil, com todo o mundo culto e todas as leis, as convenções, as condições geralmente aceitas, e com a ética deste mundo. Será por isso seu implacável inimigo, e se continua vivendo nele será somente para destruí-lo mais eficazmente.<br /><br /><strong><span style="color:#ffff33;">3 -</span></strong> O revolucionário deprecia todo o doutrinarismo: renunciou a ciência do mundo, deixando-a para a próxima geração. Ele só conhece uma ciência: a da destruição.<br /><br /><strong><span style="color:#ffff33;">4 -</span></strong> Despreza a opinião pública. Despreza e odeia a atual ética social em todas as suas exigências e manifestações. Para ele é moral tudo o que permite o triunfo da revolução, e imoral tudo o que a obstaculizar.<br /><br /><strong><span style="color:#ffff33;">5 -</span></strong> O revolucionário é um homem perdido. Implacável com o estado e, em geral, com toda a sociedade privilegiada e culta, de quem ele não deve esperar piedade nenhuma... Cada dia deve estar disposta a morte. Deve estar disposto a suportar a tortura<br /><br /><strong><span style="color:#ffff33;">6 -</span></strong> Severo consigo mesmo, deve ser severo com os demais. Todo os sentimentos ternos e abrandados sentimentos de parentesco, de amizade, de amor, de agradecimento e inclusive de honra, devem ser sufocados nele por uma única e fria paixão pela causa revolucionária.<br /><br /><strong><span style="color:#ffff33;">7 -</span></strong> A natureza de um autêntico revolucionário excluiu todo o romantismo, todo sentimentalismo, todo entusiasmo e toda a sedução.. Exclui também o ódio e a vingança pessoal. A paixão revolucionária convertida nele em paixão de cada dia, de cada minuto, deve ser seguida pelo cálculo frio. (...) Liguemo-nos com o mundo livre dos bandidos, o único autenticamente revolucionário na Rússia.<br /><br /><strong><span style="color:#ffff33;">8 -</span></strong> Reagrupar este mundo numa força invencível; eis aqui a nossa organização, nossa conspiração, nossa tarefa.<br /></em><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O super-homem de Nietzsche</span></strong><br /><br />Chega-se por fim a idéia do super-homem (Übermensch) de Nietzsche, que também constituiu-se numa formidável tentativa intelectual do idealismo e da metafísica alemã (já presente no "Fausto" de Goethe, e no "Ich!" de Fichte) em dar sua contribuição para a construção desse novo indivíduo que, para o pensador, certamente emergiria no vindouro. Ele é pois um amalgama e também uma síntese das idealizações anteriores. Porém o super-homem nietzscheano não esboça nenhuma ação para prover as multidões, nem vem para libertá-las de regimes injustos e opressores. É um egocêntrico, que, ao contrário do herói niilista, irá tentar opor-se às multidões, às massas. Ele se identifica com a força e com a soberba e não com o desvalimento e a tibiez. Com o punho duro, fechado, que brada uma exigência ou uma ameaça, e não com a mão trêmula e arqueada do pedinte. Ele é corpóreo, é sensual, ama a vida e fascina-se pelo domínio, de si e o que exerce sobre os outros. Quer ser grande, quer ser reconhecido, pois "o mundo gira em torno dos inventores de valores novos: gira invisivelmente; mas em torno do mundo giram o povo e a glória; assim anda o mundo".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">As novas tábuas do super-homem</span></strong><br /><br />Despreza a religião cristã, com seu Deus morto, cuja ética ele considerou uma espiritualização da antiga casta dos sacerdotes que se juntou à fraqueza, à pobreza e à covardia da gente comum. O Cristianismo é uma teologia de ressentidos, uma fé de enfermos e de desgraçados. Liberto das cangas pesadas e inibidoras da moralidade cristã e burguesa em que foi educado e formado, o super-homem, seguramente, irá forjar "com companheiros que saibam afiar a sua foice" uma nova moralidade. Habitando "a casa da montanha" ou a floresta, incessantemente superando a si mesmo, altivo como a águia e astuto como a serpente que acompanham Zaratustra, o seu anunciador, ele, com seus colaboradores, chamados de "destruidores e desprezadores do bem e do mal", inscreverá "valores novos ou tábuas novas". Ele é o devir a ser, ele é o futuro.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">As características do super-homem</span></strong><br /><br /><span style="color:#ff6600;"><strong>Como se reconhece<br /></strong></span><em>Pela personalidade extraordinária e pelo caráter forte, inquebrantável. Não pelo nascimento nem pela educação, mas pela inequívoca presença e fascínio que exerce sobre os demais. Por sua olímpica arrogância.</em><br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Onde ele se encontra<br /></span></strong><em>No futuro, no devir a ser, ele trará as novas tábuas não mais presas aos conceitos do bem e do mal<br /></em><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Qual a sua morada<br /></span></strong><em>A casa da montanha, os altos picos, acompanhado pela águia e pela serpente, bem distante da moralidade convencional e do cristianismo</em><br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Quais as leis que obedece</span></strong><br /><em>As que ele mesmo faz. O super-homem é o legislador de si mesmo e o autor das suas próprias e exclusivas regras</em><br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O que ele ama</span></strong><br /><em>O seu corpo, do qual não tem vergonha. Ele se exibe, se mostra, aceita a sensualidade como natural e não tem a mínima idéia do que é ou representa o pecado. A vida é proliferação e exuberância, é domínio, amor e crueldade. Em seguida a isso, ama os valentes, os corajosos, os que dizem sim a vida, os audazes que não se prendem aos limites e não temem o desconhecido.</em><br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Quais são seus inimigos</span></strong><br /><em>Os sacerdotes, os pregadores da morte, seres vingativos que detestam a vida e veneram o além. O cristianismo com sua moral de escravos, de gente impotente e ressentida com a vida.<br /></em><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O que ele detesta</span></strong><br /><em>A canalha, o populacho, porque envenena tudo o que toca. O seu sentimentalismo mela tudo, tem bocarra grotesca e sede insaciável. Chega a duvidar que a vida tenha a necessidade deles. Não tem consolo para o corcunda, para o doente, para o fraco e covarde. Quer que eles desapareçam, que sumam.<br /></em><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O que mais odeia</span></strong><br /><em>A idéia de igualdade defendida pelos democratas e pelos socialistas. O injusto é tentar fazer iguais os desiguais.</em> </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_ultimo1.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_ultimo1.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-84278480107743738252007-12-14T23:55:00.001-02:002007-12-15T00:08:41.564-02:00EM BUSCA DO SUPER-HOMEM<div align="justify"><strong><span style="color:#33ffff;">A decadência da sociedade ocidental</span></strong><br /><br />Nietzsche tinha a firme convicção de que a sociedade européia em que vivia estava atacada por profundos males, cujas sinais de decadência mais evidentes revelavam-se: a) pela expansão do liberalismo (visto como doutrina de uma burguesia senil e covarde, sem energia para reprimir a emergência da nova barbárie); b) pela crescente demanda pela democracia feita por sindicatos e pelo populacho em geral, ao qual se associavam movimentos feministas e outros libertários ("porque, bem sabes, chegou a hora da grande, pérfida, longa, lenta rebelião da plebe e dos escravos; que cresce e continua a crescer"- Zaratustra, IV parte) ; c) pelo crescente império do mau gosto, no teatro, na ópera, na música, exposto pela difusão e divulgação da arte popular ("É que, hoje, os pequenos homens do povinho tornaram-se os senhores...isso, agora, quer tornar-se senhor de todo o destino humano. Oh, nojo! Nojo! Nojo!"- Zaratustra - IV parte, 3)<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Origens mais remotas da decadência</span></strong><br /><br />Deve-se ao cristianismo, segundo Nietzsche, a origem mais remota da crescente debilitação da elite européia, na medida em que aquela religião retirou dela, da antiga casta nobre, a capacidade de retaliação. Esta era necessária para afirmá-la como poder, mas devido à pregação da tolerância, e pelo exercício inútil da piedade, da compaixão e do perdão, a velha estirpe se enfraqueceu, senilizou-se.<br /><br />O cristianismo é uma religião de escravos que louvava a pobreza, a humildade (dos pobres é o Reino dos Céus) e a covardia (dar a outra face), opondo-se à ética dos fortes, dos senhores romanos. O ódio paulino ao sexo nada mais era do que um disfarce do ódio que o cristianismo devota à vida, devido ao sentimento de inferioridade intrínseca daqueles que se ressentiam contra os seus dominadores. A influência dos evangelistas envenenou Roma, contribuindo para a sua decadência ao fazer com que o senhores do império perdessem o elã e a crueldade que era preciso para manter coeso o seu domínio do mundo. Os conceitos de bem e do mal estão superados porque Deus morreu, logo era preciso encarar a realidade e concentrar a atenção na elaboração de uma outra ética que se baseasse apenas na força do caráter e da personalidade do indivíduo.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">O que fazer?</span></strong><br /><br />A expectativa de Nietzsche, a única esperança que ele vislumbrou para evitar a bancarrota da grande cultura ocidental, ameaçada pelo mau gosto do populacho e pela possível insurreição das massas (como correra com a Comuna de Paris em 1871), era aguardar a chegada do super-homem. A ele, a este novo messias, estaria reservada a tarefa hercúlea de enquadrar a plebe, reprimindo seus anseios político e sua desqualificação estética. O super-homem não existia na época em que Nietzsche viveu, mas profetizou sua chegada para o futuro. Ele é quem executaria a transmutação dos valores, fazendo com que "Bom" e "Justo" voltassem a ser associado a "Nobre" e "Digno", e não mais a "Pobre" ou "Humilde", como ocorria na moral cristã.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Quem é o super-homem?<br /></span></strong><br />Este poderoso e tão popular personagem da imaginação nietzscheana derivou do romantismo alemão (com sua incontida celebração do gênio, do indivíduo dotado de virtudes incomuns) mas também da secularização da mitologia, encarnada num Prometeu redivivo, já assinalado por Goethe. O gênio é uma força irracional, um fenômeno da natureza, quase divino e absolutamente extraordinário: assim o enalteceram Goethe, Fichte e Hegel (que afinal conviveram com Napoleão Bonaparte). Ele encontrava-se bem acima dos demais mortais, sendo característico dele usar os outros seres humanos apenas como degrau para sua ascensão. É um forte, um aristocrata (não no sentido de sangue, mas de personalidade), um colossal egocêntrico que faz suas próprias leis e regras e que não segue as da manada. Mas o super-homem pode ser visto também como o resultado último da uma concepção evolucionista. Se, no passado remoto, como ensinou Darwin, fomos precedidos pelos símio, sendo o homem do presente apenas uma ponte, o futuro seria irremediavelmente dominado pelo super-homem.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">No passado remoto</span></strong> <br /><em>O símio (forma primitiva de existência)<br /></em><br /><strong><span style="color:#ff6600;">No presente</span></strong><br /><em>O homem (ponte para o devir)<br /></em><br /><strong><span style="color:#ff6600;">No futuro</span></strong><br /><em>O super-homem (personalidade dominante do futuro)<br /></em><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Aproximando-se de Maquiavel<br /></span></strong><br /><em>"Amo os valentes; mas não basta ser espadachim - deve-se saber, também, contra quem sacar a espada!"</em> - Zaratustra<br /><br />Nietzsche, com sua admiração pelas personalidades fortes, determinadas a tudo, alinhou-se a Maquiavel. Ambos manifestaram sua preferência pelos homens titânicos que povoaram a época renascentistas. Audazes, egoístas, incorrendo no crime e na mentira, artistas do embuste e do engano, vivendo perigosamente entre a vida e a morte, aqueles tiranos, tais como Cósimo de Medici (1519-1575) ou do seu pai Giovanni de la Bande Nere (1498-1526), que eram capazes de, ao mesmo tempo que cometiam as piores barbaridades, proteger, estimular e patrocinar, a mais esplendorosa manifestação artística que a Europa conheceu - a cultura do Renascimento. Paralelo a eles, compartilhando o mesmo cenário dos príncipes mecenas e condotieros italianos, celebrou o artista-tirano, o aventureiro a la Benvenuto Cellini (1500-1571), que somava sua habilidade com a espada e o lidar com venenos com o mais refinado bom gosto artístico. Logo, uma das conclusões que Nietzsche chegou, ao interessar-se por aquelas personalidades, é de que em nome da preservação e do deleite da arte superior, perene, magnífica, qualquer sentimento ético ou humanitário passava a ser desprezível, senão mesquinho. As atribulações daqueles príncipes, com os quais simpatizou, lhe chegaram ao conhecimento por meio da cultivada amizade que ele estabeleceu com o Jacob Burckhardt, um suíço, grande historiador da cultura grega e renascentista, com quem ele privou na cidade de Basiléia a partir de 1870, e que escrevera um ensaio clássico sobre o tema (A Civilização da Renascença italiana, 1860).<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Influência de Darwin</span></strong><br /><br />O darwinismo, difundido largamente após a publicação em 1859 da "Origem das Espécies", ensinou que a Natureza é amoral. A sobrevivência dos seres existentes não é determinada por critério éticos, nem pelas regras do Bem e do Mal. A seleção dos mais aptos não se faz obedecendo aos princípios morais, mas sim pelo desenvolvimento da capacidade de sobrevivência e de adaptação. As conseqüências morais lógicas extraídas dessa visão naturalista da existência, aplicadas à sociedade em geral, conduzem à eugenia de Francis Galton, não podendo ser outras senão em ter que concordar que somente os mais capazes têm direito à vida. Aos fracos cabe um destino inglório: a morte ou a submissão! - "o fraco não tem direito à vida". Nietzsche de certa forma, ainda que com desavenças, elaborou a metafísica do darwinismo, fazendo da sua filosofia uma espiritualização da teoria da seleção das espécies e da vitória do mais capaz, apresentada pelo grande naturalista.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Influência de Dostoiévski</span></strong><br /><br />Nietzsche impressionou-se com a literatura de Dostoiévski, o criador do personagem niilista radical que, por sua vez, era inspirado no raznochintsy, o solitário homem-idéia, um produto sócio-político do Movimento Narodniki, o populismo russo do século XIX. Personagem vivamente extraído da realidade russa do tempo do czar, é um ateu e materialista que vive em função de uma causa, a quem ele se dá integralmente, ao estilo de Netcháiev. Por ela, pela causa, dedica a sua vida, fazendo ele mesmo suas regras: "Se Deus não existe, tudo é permitido"(Ivan Karamazov). Nietzsche, ao contrário de Dostoievski, não lamentou o surgimento desse novo "animal-político", o niilista que vaga pelo mundo como um lobo solitário a serviço de algo que ele mesmo elegeu como razão de ser da sua existência. Exalta-o como um exemplo do super-homem que não se detém perante qualquer prurido moral na concretização dos seus objetivos, sejam eles quais forem. Ele, esse personagem fantástico, assume na totalidade as implacáveis conseqüências de um mundo sem Deus, tirando disso as devidas conclusões morais. Defendendo a emergência de uma nova ética, baseada nas virtudes do homem superior, ele vive completamente afastado das massas, sempre aferrado à sua tarefa de impor uma nova atitude perante à vida.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">A projeção de Nietzsche</span></strong><br /><br />Politicamente, ele tanto foi acolhido por anarquistas, que na linha de Max Stirner (1806-56), que celebravam através da leitura dele o individuo-absoluto (o homem solitário, quase uma fera, que enfrenta a sociedade burguesa a quem vota desprezo e ódio), como também pelos nazi-fascistas, com a identificação com a teoria de uma elite de homens fortes dotados de vontade de domínio (uma nova raça superior liderada pela besta fera ariana, dominadora e implacável). Seja como for, em se tratando de política, são os extremistas ideológicos quem cultuam Nietzsche, não os democratas. O mesmo evidentemente não ocorre com os literatos e filósofos, tais como Heinrich e Thomas Mann, ou, mais recentemente, com Michel Foucault, que, independentemente das inclinações contra-revolucionária de Nietzsche, reconheceram nele uma fonte inesgotável de percepções originais, estéticas e existenciais, todas elas relevantes, e que muito contribuíram para a compreensão do homem moderno e para os fenômenos artísticos e políticos que acometeram o século XX.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Nietzsche e os quadrinhos</span><br /></strong><br />Suprema ironia deu-se com a idéia do super-homem - tornada popular com a ascensão de Hitler e dos nazistas ao poder na Alemanha dos anos trinta -pois terminou por cair no agrado popular (para bem possível escândalo de Nietzsche se vivo fosse) Nos Estados Unidos, de imediato, surgiram uma série de comics, de heróis em quadrinhos dotados de poderes extraordinários. O mundo então foi inundado por uma enxurrada de curtas historias ilustradas que fizeram por difundir e, claro, adulterar completamente o sentido original do super-homem imaginado por Nietzsche. De certa forma, ocorreu uma incrível metamorfose que fez com que uma ideologia elitista e exclusivista como a que Nietzsche defendeu, acabasse, depois de apropriada pela indústria da cultura de massas, por gerar um ícone cultuado pelas multidões de jovens anônimos do nosso século. No final das contas as massas fizeram por canibalizar o super-homem.<br /><br /><strong><span style="color:#33ffff;">Confluindo para o super-homem<br /></span></strong><br /><em>"Eu assento minhas coisas no Nada"</em> ("Ich hab, mein Sach' auf Nichts gestellt) - Max Stirner - O Eu e o seu próprio, 1845<br /><br />Podemos, em síntese, identificar quatro origens na configuração nietzscheana do super-homem<br /><br /><span style="color:#ff0000;"><strong>Inspiração - Fontes</strong></span><br /><br /><strong><span style="color:#ffff66;">Mitológica (grega)</span><br /></strong><em>Prometeu, o titã que ousou desafiar os deuses Olímpicos, passando a viver de acordo com seus princípios<br /></em><br /><strong><span style="color:#ffff66;">Renascentista (italiano)<br /></span></strong><em>O príncipe maquiavélico, o tirano que utiliza-se operacionalmente dos valores morais em função do poder</em><br /><br /><strong><span style="color:#ffff66;">Romântica (alemã)<br /></span></strong><em>O gênio, concepção do romantismo alemão, a grande personalidade que se confronta com seu época e vem anunciar um novo tempo, uma nova época, indiferente aos clamores contrários que provoca</em><br /><br /><span style="color:#ffff66;"><strong>Populista (russo)</strong><br /></span><em>O niilista russo, o raznochintsy, aquele que estava fora do sistema de castas da Rússia Czarista e que, revoltado, empenhava-se com fervor em torno da causa.</em></div><div align="justify"><em></em> </div><div align="justify"><em><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="justify"><em><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_super_homem.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_super_homem.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></em></div></blockquote></span></em></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-68170131561488929002007-12-14T23:42:00.000-02:002007-12-14T23:47:25.912-02:00AS INFLUÊNCIAS<div align="justify"><strong><span style="color:#ff0000;">Arthur Schopenhauer</span></strong> (1788-1860) filósofo do pessimismo, autor do Mundo como Vontade e Representação, edição de 1844, que trouxe ao cenário filosófico a importância da Vontade (Wille) <br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Jacob Burckhardt</span></strong> (1818-1897) historiador suíço, pioneiro da história da cultura, autor de "A Civilização da Renascença italiana", de 1860, que passou a Nietzsche a idéia da construção histórica da individualidade. <br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Fédor Dostoievski</span></strong> (1821-1881) novelista russo, uma das maiores influências literárias de Nietzsche, especialmente pelo contraditório fascínio que o romancista revelou pelo homem-idéia, pelo niilista, o homem sem Deus da era moderna. <br /><br /><strong><span style="color:#ff0000;">Richard Wagner</span></strong> (1813-1883) compositor alemão, autor do mítico "Anel dos Nibelungos" (1853-1874), transposição para a música da saga dos germanos. Nietzsche viu nele um novo Dionísio, um deus da música.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;color:#ff6600;"><blockquote><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;color:#ff6600;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_influencias.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;color:#ff6600;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_influencias.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;color:#ff6600;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-83187801309767574742007-12-14T23:35:00.000-02:002007-12-14T23:41:40.599-02:00TRAÇOS BIOGRÁFICOS<div align="justify"> <em>"...Sim já sei de onde venho...tudo o que tocam as minhas mãos se torna luz e o que lanço não é mais do que carvão. Certamente, sou uma chama!" - Nietzsche, 1888<br /></em><br /><strong><span style="color:#33ff33;">Vida de cigano<br /></span></strong><br />Quem o conheceu naquela época, entre 1880-90, não deixou de se comover ao vê-lo. Friedrich Nietzsche, devastado por uma miopia de 15 graus, andava como que às cegas, tateando com as mãos ou com a bengala o perigoso espaço embaçado que imaginava na sua frente. Desde que o aposentaram precocemente aos 34 anos da Universidade de Basiléia na Suíça, deu-se a ter uma vida de pobre cigano, arrastando-se de pensão em pensão, de quarto em quarto, por cidades italianas (Gênova, Veneza, Sorrento, Turim), francesas, (Nice) ou recantos suíços (como Sils-Maria). Se bem que nascido em Röcken, em 15 de outubro de 1844, no coração da Saxônia, pode-se dizer que Nietzsche passou seu tempo de adulto mais fora do que dentro da Alemanha.<br /><br />O pai, um pastor, parece que talentoso, um monarquista convicto e preceptor de princesas, batizou-o com o nome dos reis prussianos - Frederico. Deu-lhe o nome e infelizmente também lhe legou uma estranhíssima doença. Era isso que o fazia agora, homem feito, ver-se jogado na cama por dias a fio torturado por pavorosas enxaquecas, seguidas de eternas indisposições estomacais e tonturas de toda ordem.<br /><br /><strong><span style="color:#33ff33;">Uma só escassa paixão</span></strong><br /><br />Foi este estado lastimoso que fez com que uma sua conhecida Malwida von Meysenburg, uma dedicada senhora casamenteira, não parasse de arranjar-lhe encontros com umas moças que passavam por seu salão. Era uma luta arrancar aquele misógino do fundo da pensão em que estivesse para que fosse dar uma passeio com alguma daquelas prometidas.<br /><br />Por uma pelo menos ele se interessou - dizem que chegando à paixão - uma jovem russa que vivia no Ocidente chamada pelo exótico nome de Lou Salomé e por quem ele, inutilmente, se entusiasmou por uns oito meses no ano de 1882. Ela, mais tarde, casou-se com o poeta Rainer Maria Rilke, e também freqüentou Freud, de quem se tornou discípula.<br /><br /><strong><span style="color:#33ff33;">Wagner decepcionou Nietzsche</span></strong><br /><br />Seu melhor momento de relacionamento foi com Richard Wagner e com a mulher dele, Cosima, quando freqüentou assiduamente, em peregrinações de fim de semana, a mansão do compositor em Tribschen, na Suíça. Amizade que começou a desmoronar em 1878 quando farejou no grande mestre sinais de concessões ao gosto popular e acenos indiscretos ao cristianismo, religião a qual ele devotou um ódio crescente. Ao Cristianismo e à idéia da Igualdade!<br /><br />Wagner, um egocêntrico assumido, queria que o iniciante Nietzsche (era trinta anos mais jovem que o compositor) fosse uma espécie de arauto das suas óperas e não um intelectual independente que "caminhasse junto a ele". Nietzsche, anos depois, disse que os dois, ele e Wagner, eram dois barcos navegando na mesma direção, encontrando-se aqui e ali, mas com rotas diferentes, e que se não se davam bem entre as águas, seguramente o fariam quando se encontrassem num outro lugar. Nos céus!<br /><br /><strong><span style="color:#33ff33;">Um notável escritor</span></strong><br /><br />Durante mais de dez anos aquele esquisito professor alemão, que chamava a atenção das pessoas por andar com um bigodão de cossaco, trancado com seus livros e papéis em aposentos soturnos, dedicou-se a produzir candentes escritos contra tudo o que era estabelecido e até mesmo o que consideravam não convencional (como o socialismo e o feminismo). Poucos deixam de ler uma página de Nietzsche sem uma forte impressão - a favor ou contra. E que escrita! Ninguém como ele empunhara o alemão assim, a marteladas.<br /><br /><strong><span style="color:#33ff33;">Um pensador impressionista</span></strong><br /><br />Nada de sistema ou de portentosos tratados, nenhum pedantismo caracteriza os escritos de Nietzsche. Ao contrário, redigiu versos, aforismos, uma prosa de parágrafos curtos, frases secas, certeiras, com extraordinária carga emocional. Realizou uma façanha - era o primeiro pensador moderno da Alemanha a abominar a paixão nacional pelo texto obscuro (religiosamente respeitada pelos intelectuais alemães). Viu-se na pele de um novo profeta: um Zaratustra, o velho mago iraniano, renascido bem no meio da Europa Ocidental. Alguém que vinha anunciar a todos que uma Nova Ordem adviria. E nela, malgrado os crentes, Deus não mais existia! O próprio homem como conhecíamos, desapareceria.<br /><br /><strong><span style="color:#33ff33;">O super-homem</span></strong><br /><br />Se foramos em algum dia remoto, como Charles Darwin sugerira, um macaco, o homem de agora era uma ponte, uma passagem para um outro devir a ser: o do Übermensh, o super-homem. Liberto dos entraves do bem e do mal, este novo ser, um titã, um colosso egocêntrico, viria para a conquista futura do mundo. Uma nova raça de homens, recuperando e restaurando as autênticas e primitivas pulsões (bárbaras, violentas, extremadas) sufocadas pela moral convencional e pela religião, levaria tudo de roldão.<br /><br /><strong><span style="color:#33ff33;">Loucura e morte</span></strong><br /><br />Paradoxalmente, disse num certo momento, que não queria discípulos. Era serio? Teve-os aos magotes. Endoidou de vez em Turim, em janeiro de 1889, quando acharam-no aos prantos abraçado num cavalo espancado. Durante os dez anos restantes afundou-se numa densa névoa. Morreu na pequena Weimar, a capital cultural da Alemanha, no dia 25 de agosto de 1900. A sua irmã mais nova Elizabeth recolhera-o para lá em 1897, entendendo de que somente o sítio de Goethe era suficientemente ilustre para acolher em seus últimos dias o famoso e infeliz irmão louco. </div><div align="justify"> </div><span style="font-family:times new roman;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_tracos_biograficos.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_tracos_biograficos.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-19021006033140728432007-12-14T23:29:00.000-02:002007-12-14T23:35:36.858-02:00ESPECIAL NIETZSCHE<div align="justify"><strong><span style="color:#ff6600;">NIETZSCHE: TRAÇOS BIOGRÁFICOS</span></strong> - Acompanhe algumas importantes passagens da vida do filósofo: seu nascimento, em Röken; sua única paixão, Lou Salomé; a relação com Wagner e a esposa, Cosima; a profetizção do Übermensh (super-homem); a loucura em Turim; e a morte, assistido pela irmã mais nova, Elisabeth, em Weimar. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O PENSAMENTO DE NIETZSCHE</span></strong> - Os episódios da Comuna de Paris foram fundamentais para o acirramento das posições políticas de Nietzsche, que o colocaram ao lado dos antidemocratas, dos anti-socialistas, e contra todo e qualquer tipo de pregação que visasse a igualdade, tornando-o um apologista da distinção. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">AS INFLUÊNCIAS DE NIETZSCHE</span></strong> - Conheça as personalidades que influenciaram o pensamento de Nietzsche e saiba o que cada um deles contribuiu na vida do filósofo. </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong><span style="color:#ff6600;">DOSTOIEVSKI E NIETZSCHE</span></strong> - Nietzsche foi grande admirador de Dostoievski, autor que inspirou-o com seu homem-idéia, que vive de acordo com as próprias regras, indiferente ao sofrimento que suas ações possam provocar. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">EM BUSCA DO SUPER-HOMEM</span></strong> - Nietzsche profetizou para um futuro adiante à sua vida a chegada de um super-homem, um messias que colocasse a plebe em seu devido lugar e restabelecesse a associação de "bom" e "justo" com "nobre" e "digno", substituindo assim os tortos valores do cristianismo. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">NIETZSCHE FILÓSOFO</span></strong> - A doutrina nietzschiana é anti-intelectualista por excelência. Ao acentuar o ato, e não a reflexão ou a meditação, privilegia o "experimental". Se há indecisão entre Apolo e Dionísio, entre a razão e a emoção, ele recomenda seguir o deus das bacantes. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">NIETZSCHE: ESCULPINDO O INDIVÍDUO</span></strong> - A tentativa de prever os novos tempos da humanidade rendeu diversas e contraditórias repostas de pensadores, filósofos e homens de letras. Qual seria o novo paradigma do homem ocidental do futuro? Para Nietzsche, certamente seria o super-homem, um egocêntrico que se oporia às multidões.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">NIETZSCHE, A CONSTRUÇÃO DO ZARATUSTRA</span></strong> - Que motivo levou um ateu assumido como Nietzsche a fazer de um carismático líder religioso do passado, Zaratustra, o veículo da sua mensagem? Esse ato mostra que o pensador alemão, apesar de não ser mais cristão racional e intelectualmente, carregava os traços de um filho de pastor. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">NIETZSCHE E A DECADÊNCIA</span></strong> - Para Nietzsche, a democracia representava um regime decadente. Sua misericórdia para com os fracos e doentes era um sinal de decomposição dos valores superiores, que iam-se perdendo à medida que o poder era transferido para as massas.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">NIETZSCHE E O ASCETA</span></strong> - Nem mesmo a vida do homem santo, tão admirada e enaltecida pelo cristianismo, escapou do arguto e contundente olhar de Nietzsche. O filósofo classificou a repúdia dos ascetas aos prazeres da vida como um exemplo da forma extrema da orgulhosa vontade de poder. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A MORTE DE DEUS</span></strong> - Laplace, Kant, Strauss, Pasteur, Darwin e Nietzsche estão entre os nomes daqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram no século XIX para o rompimento do homem com o sobrenatural, desvendando os mistérios que cercavam a humanidade. O castigo e a redenção dos homens não vinha de Deus, mas de nós mesmos.</div><div align="justify"> </div><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/especial/home_nietzsche.htm"><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/especial/home_nietzsche.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;font-size:85%;">]</span></div></blockquote></span>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-78286210244392310452007-12-14T23:10:00.000-02:002007-12-14T23:16:42.535-02:00AS MELHORES BIOGRAFIAS<div align="justify"><strong><span style="color:#ff6600;">"Vida de Frederico Nietzsche"</span></strong> ou somente "Nietzsche", do francês Daniel Halévy, cuja primeira publicação é de 1909, tendo uma reedição ampliada em 1944. Na edição de Lisboa tem 409 págs. <br /><br /><span style="color:#ff6600;"><strong>"Nietzsche"</strong></span> de Ivo Frenzel, é uma das excelentes edições de livro de bolso, com gravuras e fotografias dos principias locais onde o poeta e pensador viveu. Edição alemã de 1966. <br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">"Friedrich Nietzsche"</span></strong> (Friedrich Nietzsche. Biographie) de Curt Paul Janz, em 4 volumes, surgida em Viena em 1978. Trata-se de uma das mais recentes, extensa e detalhada, biografia do pensador. Divide-se em "Infância e juventude" (vol. I); "Os dez anos de Basiléia" (vol. II); "Os dez anos como filósofo errante"(vol. III); "Os anos de naufrágio"(vol 4). Só existe uma tradução em espanhol da Alianza de Madri, e provavelmente é a mais alentada de todas, tendo mais de mil páginas. <br /><br /><span style="color:#ff6600;"><strong>"Nietzsche: el aguila angustiada. Una biografia"</strong></span><span style="color:#000000;">(</span>Der ängstliche Adler. Friedrich Nietzsche Leben, Munique, 1989), de Werner Ross, tradução espanhola da Paidós, de 1994. Trata-se de uma complementação dos dois tomos escritos por Heidegger, enfocando a vida mesclada à obra do pensador. É também monumental, com 865 páginas, e extremamente agradável de se ler.</div><div align="justify"> </div><div align="center"><span style="font-family:times new roman;"><blockquote><div align="center"><span style="font-family:times new roman;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_biografias.htm"><span style="font-family:times new roman;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_biografias.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-14074797998331757182007-12-14T23:05:00.000-02:002007-12-14T23:09:38.670-02:00O PROGRAMA DO SUPER-HOMEM<div align="justify">O grande programa do super-homem, portanto, estava pronto. Tratava-se de uma abrangente reforma que procurava dar um senso de propósito a uma existência na terra abandonada pela deidade. Os interesses de poucos deverão ter proeminência sobre todos os demais, a força do espírito sobrepujará a fraqueza, a saúde do espírito sucederá qualquer tibiez, a guerra dos espíritos substituirá a paz. Como conseqüência lógica disso, as necessidades dos indivíduos excepcionais terão sempre precedência contra o espírito nivelador estabelecido pela gravitação imposta pela mediocridade. O mundo filisteu, dominado pela pasmaceira da vida rotineira deverá dar lugar à audácia, à dança, e à destreza intelectual. A de viver-se perigosamente.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A revolta contra o tédio</span></strong><br /><br />A pregação de Zaratustra foi entendida por George Steiner como uma desconformidade, entre tantas outras, com a vida tediosa da sociedade burguesa fin de siècle, onde o mundo aventureiro e belicoso do aristocracia cedia espaço ao utilitarismo frio, prático e calculista, do homem burguês ocidental. Uma época absolutamente banal na qual a sociedade científico-positivista via-se crescentemente dominada pelo espírito liberal-igualitário, que impedia o afloramento da individualidade singular, a emergência do grande homem, da personalidade fora de série, que o profeta vinha pressagiar. Um estado de espírito que encontrou sua melhor expressão no dito do poeta Théophile Gautier: "Prefiro a barbárie ao tédio!"<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A vontade de poder<br /></span></strong><br />Se Schopenhauer, um pessimista assumido, desenvolveu a teoria de que a vida não tinha nenhum sentido racional e que todos nós éramos apenas expressões da vontade, uma vontade de viver instintiva, animal, cósmica, que estava entranhada na natureza e em nós, Nietzsche irá atribuir à vontade uma outra dimensão. Influenciado pelas teses de Charles Darwin (1809-1882), como a luta pela vida e a sobrevivência do mais apto, ele considerou a vontade (Wille)como uma força positiva sobre o Homem, uma energia que mobiliza-o, fazendo-o ultrapassar os obstáculos e vencer os desafios que se lhe antepõem. Daí reduzir quase tudo na existência à luta pela vontade de poder (Wille zur Macht).<br /><br />A necessidade vital que o homem tem de sempre lançar-se compulsivamente sobre os demais objetos da natureza e sobre o resto da sociedade visando o seu domínio, estaria assentada na antiga premissa de que "cada um de nós deseja, no possível, ser o senhor de todos os homens, e preferivelmente deus". Esta vontade de poder é vital e amoral, independe de critérios éticos, é uma espécie de pulsão incontrolável que faz com que o homem enfrente todas as vicissitudes para saciá-la (concepção que foi recentemente reaproveitada por Michel Foucault na sua "microfísica poder", e com a visão de que a sociedade é um conflito permanente entre poderes, que transcendem a simples luta política partidária e ideológica, englobando as políticas clínicas, da saúde pública, dos sanatórios e das prisões).<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A política de domínio</span></strong><br /><br />Isto conduziu a que Nietzsche aceitasse e enaltecesse qualquer política de domínio, acreditando-a inevitável. No Além do bem e do mal (Jenseits von Gut und Böse), concluída em 1886, e que é de certa forma, a complementação final em prosa do Zaratustra, afirma que "a vida mesma é essencialmente apropriação, ofensa, sujeição do estranho e mais fraco, opressão, dureza, imposição de formas próprias, incorporação e, no mínimo e mais comedido, exploração".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A vontade dos mais fortes</span></strong><br /><br />Evidentemente que esta manifestação de vontade de poder, em sua plenitude, só pode ser exercida pelos mais fortes. Aos fracos cabe a obediência respeitosa ou aceitar o extermínio silencioso. Esta figura vitoriosa, altaneira, que impõe sua vontade sobre tudo e todos, não pode ser constrangida pela moral comum dos homens vulgares, dos preceitos seguidos pelas maiorias, ou pelo imperativo categórico kantiano, que desejava tornar toda e qualquer ação numa lei universal.<br /><br />O mais forte faz suas próprias regras, estabelece para si qual é a melhor conduta e não espera de forma nenhuma que os outros o sigam (é o "façam o que eu digo e não o que eu faço" de Napoleão). Ele não deve estranhar se o consideram duro e insensível, quiçá até desumano, pois estes são os atributos do super-homem, que trafega soberbo no seu Olimpo particular e só tem gestos generosos para com os demais na medida em que isto o enaltece ou satisfaz.<br /><br />Despreza "o covarde, o medroso, o mesquinho o que pensa na estreita utilidade; assim como o desconfiado, com seu olhar obstruído, o que rebaixa a si mesmo, a espécie canina de homem, que se deixa maltratar, o adulador que mendiga, e sobretudo o mentiroso - é crença básica de todos os aristocratas que o povo comum é mentiroso". Ao homem comum, ao fraco em geral, só lhe resta a serventia de ser um degrau de apoio sobre o qual a figura de escol deverá calcar em sua ascensão os cimos mais elevados de uma existência superior.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Uma contra-utopia</span></strong><br /><br />Nietzsche de certa forma esboçou, com sua prosa impressionista, o que poderíamos considerar como uma contra-utopia ou uma utopia direitista. Na sociedade futura que imaginou, a harmonia seria estabelecida apenas entre os que se consideravam iguais - a nova nobreza formada pelos super-homens - que regeriam uma comunidade rigidamente hierarquizada, despida da moral comum, dominada pela "besta loura" que exerceria sua autoridade baseada numa impiedosa vontade de poder.<br /><br />A obra de Nietzsche, sob o estrito ponto de vista político e ideológico, foi a mais profunda e radical manifestação intelectual contra as grandes cartas e documentos que se posicionaram pela e igualdade e liberdade que vieram à luz na cultura ocidental, desde a Declaração dos direitos do homem e do cidadão da Revolução Francesa, passando pelo Manifesto comunista de Marx e Engels, até as leis sociais da sua época.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">"Eu sou dinamite!"<br /></span></strong><br />O próprio Nietzsche nunca deixou de ter consciência de que suas posições, assumidamente radicais, teriam conseqüências terríveis nos anos vindouros. Que para ele seriam tomados por uma reação contra-revolucionária de dimensões espantosas. No Ecce Homo, por exemplo, a sua autobiografia publicada somente em 1908, oito anos após a sua morte, reconhece: "Conheço a minha sorte. Alguma vez estará unido ao meu nome algo de gigantesco - de uma crise como jamais haverá existido na terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão tomada, mediante um conjuro, contra tudo o que até esse momento se acreditou, exigiu, santificou. Eu não sou um homem, sou dinamite".<br /> </div><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;"><blockquote><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento3.htm"><span style="font-family:times new roman;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento3.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-10154199435258708212007-12-14T22:55:00.000-02:002007-12-14T23:04:47.338-02:00O CULTO AO GÊNIO<div align="justify">A teoria do surgimento futuro de um novo indivíduo que conjugasse o abandono dos valores do bem e do mal com um ateísmo engajado, foi, de certa forma, a evolução decorrente do culto ao gênio professado pelos primeiros românticos. A teoria do gênio vai ser retomada por Arthur Schopenhauer que irá expô-la num apêndice acrescentado ao seu O mundo como vontade e representação, na reedição de 1844, onde, num certo momento associa o homem genial à dimensão do Monte Blanc, que, do cimo das suas neves elevadas, contempla olimpicamente o resto da humanidade, mantendo-se fiel apenas " ao fim objetivo" ... "uma meta a ser atingida, mesmo que seja um equívoco, mesmo que seja um crime".<br /><br />Thomas Carlyle, um reconhecido admirador do romantismo alemão, também se abeberou da idéia do gênio, adotando-a na sua concepção da história como sendo o palco exclusivo da ação do herói, do grande homem, que num só gesto ou ato altera o destino de milhões. Ela - a história - não passaria, pois, de um grande gesto heróico, onde a personalidade magnífica domina inteiramente o cenário da sua época. E, é claro, a figura do super-homem já estava esboçada anteriormente em Novalis, Heine e Goethe e, mais remotamente ainda, num dos diálogos de Platão.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A influência de Dostoievski</span><br /></strong><br />Uma das influencias mais significativas que Nietzsche recebeu foi-lhe inspirada pela leitura de Fédor Dostoievski (1821-1881). O escritor russo foi o primeiro, sob o enfoque cristão, a detectar o perigo da emergência do homem - idéia, ou do homem-deus enaltecido pelos românticos, desde os tempos de Fichte. A moderna sociedade liberal e progressista ao atacar os valores religiosos , sem se dar conta do perigo, abria uma brecha nos valores estabelecidos por onde aflorava o terrível homem-idéia, o indivíduo ateu e materialista que devotava sua vida a favor de uma causa, normalmente de inspiração niilista. Ele era um perigoso abnegado e um obcecado que rompia com os valores da sociedade, criando um universo ético próprio, só dele, totalmente afastado do cristianismo.<br /><br />Nos romances de Dostoievski ele, este indivíduo perigoso, aparecerá no personagem do jovem estudante Raskolhnikov, em Crime e castigo; na do intelectual Ivan Karamazov de Os irmãos Karamozovi; e no príncipe Stavroguin no romance Os demônios. Todos eles são descritos como esses homens-idéia gerados pela modernidade que Dostoievski abominava e a quem ele reservou, em todos as novelas citadas, um final infeliz, na medida em que os considerava uns "perdidos de Deus".<br /><br />Pois foi justamente este homem-idéia, esse ateu de novo tipo, que Dostoievski via com angústia e apreensão, que se tornou o arquétipo do novo homem moderno, é que foi o herói de Nietzsche. Ele, e somente ele, teria a coragem de doravante assumir a realidade de um mundo onde Deus estava morto. Mas isso estava longe de significar uma vida sem sentido como muitos moralistas e homens de fé acreditavam. Bem ao contrário! O terrível dito de advertência de Dostoievski de que "se Deus esta morto, tudo é permitido", que o russo entendia como uma chamamento à licença, à desordem e ao crime, Nietzsche entendeu como uma liberação. A possibilidade do indivíduo construir o seu destino não mais tolhido por qualquer regra, por qualquer impedimento, dilatava os horizontes para extensões impensadas.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A liderança do super-homem</span><br /></strong><br />E era exatamente nisso que estava o significado inaudito dos tempos vindouros. Devia-se aceitar na totalidade um mundo onde uma nova ordem deveria fatalmente imperar, na qual as novas regras, acima do bem e do mal, seriam impostas por essa figura exponencial que era o super-homem. (Übermensch), Este titã moderno, liberto de toda e qualquer ladainha cristã-humanitária, desprezaria qualquer sentimento de arrependimento, varrendo de dentro de si a fraqueza da piedade . Como Nietzsche deixou dito no "Humano, demasiado humano"(Menschliches, Allzumenschliches): "Se o homem consegue adquirir a convicção filosófica da necessidade absoluta de todas as ações e, ao mesmo tempo, da total irresponsabilidade destas, se consegue converter essa convicção em carne e em sangue , então desaparecerá também este resto de remorso de consciência".<br /><br /><span style="color:#ff6600;"><strong>O manifesto de Zaratustra</strong><br /></span><br />A singularidade do pensamento ideológico e filosófico de Nietzsche é que foi exposta por meio de um grande poema: Assim falou Zaratustra (Also spracht Zarathustra), iniciado em 1883. Nele o filósofo-poeta se apresenta atrás da roupagem do profeta iraniano Zaratustra ou Zoroastro (que viveu ao redor de 600 a.C. e que compôs o Zend-E-Avesta, dividido em cinco Gathas, ou canções proféticas), anunciando a boa nova da chegada do super-homem (após ter passar anos no alto de uma montanha, o profeta, exilado numa caverna, para onde havia se retirado a fim de meditar, tinha como companhia apenas uma águia e uma serpente).<br /><br />Dali Zaratustra desce para vaticinar a vinda daquele que irá superar o homem: o super-homem. "Que é o macaco para o homem?" - pergunta o profeta àqueles a quem encontra na praça do mercado da cidade, e responde: "Um motivo de riso e dolorosa vergonha. E é justamente isso que o homem deverá ser para o super-homem: um motivo de riso ou de dolorosa vergonha". E, mais adiante, diz ao povo que "o homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem - uma corda sobre um abismo"... o homem é ao mesmo tempo "uma transição e um ocaso". Uma nova era, de superação de antigos tempos está para vir "... não existe Diabo, nem inferno", diz Zaratustra "a tua alma estará morta ainda mais depressa do que o teu corpo; portanto não receies nada!"<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">As metamorfoses do espírito</span><br /></strong><br />Os homens, segundo Zaratustra, teriam passado por três metamorfoses do espírito: foram primeiramente camelos, por carregarem em si as culpas do mundo, o sentimento do pecado ensinado pelos religiosos. Depois tornaram-se leões na medida em que se rebelaram contra esse passado de fadigas e culpas ignominiosas, onde seus instintos puros eram condenados como pecaminosos e, finalmente, assumiram a forma de crianças, na esperança de renascer numa nova moralidade, distinta da anterior, livres dos preceitos estabelecidos pelo bem e pelo mal.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O futuro é das águias</span><br /></strong><br /><em>"Lembrem-se: Quanto mais alto planamos, menores vemos são as pessoas que não conseguem voar".</em> - Nietzsche<br /><br />Mas esse devir radioso, liberto da moral passada, não é um lugar reservado a todos "[...] Na árvore do futuro, construamos o nosso ninho; para nós os solitários, águias deverão trazer alimento em seus bicos! E, como fortes ventos, queremos viver acima deles, vizinhos das águias, vizinhos da neve, vizinhos do sol: assim vivem os ventos fortes. E tal como o vento forte, quero algum dia, soprar no meio deles [da canalha] e, com o meu espírito, tirar o respiro ao seu corpo: assim quer meu futuro". Zaratustra detesta "os pregadores da igualdade" que, segundo ele, não passam de " tarântulas e bem ocultas almas vingativas". Concluindo não querer "ser confundido com esse pregadores da igualdade. Porque, a mim, assim falava a justiça: os homens não são iguais".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">O super-homem está no devir</span></strong><br /><br />O profeta não vê as características do super-homem entre os integrantes da antiga nobreza. Eles também já foram contaminados pelo liberalismo ao fazerem concessões políticas ao populacho (no caso, as primeiras leis sociais e de previdência aprovadas por Bismarck no IIº Reich alemão). Portanto, o super-homem ainda está por nascer e será identificado por sua integral e total devoção aos princípios exclusivista que defende, pelo seu caráter de aço!<br /><br />Não se fará reconhecido por nenhum atributo genético, por nenhuma descendência aristocrática, mas sim pela consciência e poder que irá naturalmente transbordar da sua pétrea personalidade. A missão dele será partir "as velhas tábuas". Ele formará "uma nova nobreza, que se oponha a toda a plebe e a toda a tirania e que escreverá novamente em novas tábuas a palavra 'nobre".<br /><br />Zaratustra esperançoso olha para a frente: "A minha águia está acordada e, como eu, presta homenagem ao sol. Estende suas aduncas garras de águia para a nova luz. Sois os animais certos para mim; eu vos amo. Mas faltam-me, ainda, os meus homens certos!"<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Maquiavel, o teórico do amoralismo<br /></span></strong><br />Tal como Maquiavel encerrava O príncipe na expectativa de que surgisse na Itália dilacerada do seu tempo uma figura magnífica, despida de preconceitos, que lançasse mão de quaisquer recursos, mesmo que inescrupulosos, para unificar o país ameaçado pelos bárbaros, Nietzsche-Zaratustra esperava o mesmo na emergência de um super-homem.<br /><br />Só que os temores da época de Nietzsche eram outros. Os novos bárbaros que assustavam o Ocidente que ele pretendia defender eram as idéias democráticas, o socialismo (que para ele eram sinônimos) o feminismo, o mau gosto vulgar da nascente cultura de massas, que devia ser exorcizado. Portanto, chegou mesmo a considerar - em nome da boa arte - a necessidade da escravidão. Toda a beleza apolínea da arquitetura grega antiga e sua imorredoura qualidade estética havia sido produto de uma sociedade escravista. O Pártenon poderia dever muito à iniciativa de Péricles e ao gênio de Fídias, mas também à chibata do feitor! </div><div align="justify"> </div><div align="justify"><blockquote><div align="justify"><span style="font-family:times new roman;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento2.htm"><span style="font-family:times new roman;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento2.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;">]</span></div></blockquote></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8444376837763640951.post-74318085743856357832007-12-14T22:47:00.000-02:002007-12-14T22:54:47.026-02:00O PENSAMENTO DE NIETZSCHE<div align="justify">Friedrich Nietzsche estava se recuperando em Basiléia, na Suíça, de uma doença que o atacara na Guerra Franco-Prussiana de 1870 (ao prestar serviço de assistência aos feridos do exército alemão), quando chegou-lhe uma terrível notícia. Em março de 1871 a população de Paris havia se rebelado contra o governo derrotado. Pior, os operários estavam pondo fogo nos grandes prédios públicos e depredando as obras de arte espalhadas pela capital francesa, entre elas a bela Coluna de Vendôme. Era a Comuna de Paris que havia sido proclamada no dia 18 de março de 1871, que se tornaria um dos mais violentos levantes populares da Europa do século XIX.<br /><br />Foi um choque para ele. Ainda estonteado pelas informações que recebera, refugiou-se na casa do historiador da cultura Jacob Burckhardt (1818-1897), o célebre helenista e historiador da cultura, pesquisador da Itália renascentista, que igualmente estava desconsolado. Acreditaram os dois amigos que toda a arte ocidental estava ameaçada. Séculos de beleza estavam em vias de ser totalmente devastados pelo vandalismo das massas parisienses revoltadas.<br /><br />Os episódios da Comuna de Paris foram fundamentais para o acirramento das posições políticas de Nietzsche. Onde Karl Marx viu um momento de bravura popular, Nietzsche identificou o surgimento de uma nova barbárie que era preciso deter a qualquer custo. A Comuna será, pois, o ponto de partida para uma série de escritos que ele desenvolveu ao longo dos próximos vinte anos seguintes e que o colocaria ao lado dos antidemocratas, dos anti-socialistas, e contra todo e qualquer tipo de pregação que visasse a igualdade, tornando-o um apologista da distinção.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Nietzsche como Anticristo</span></strong><br /><br />O ataque direto que Nietzsche desencadeou contra o cristianismo radicalizou-se com o seu "O Anticristo" (Der Antichrist), mas foi inicialmente exposto na A genealogia da moral (Zur Genealogie der Moral), de 1887. Argumentou que a ética cristã era uma moral de escravos, de gente fraca e vil que havia, através do cristianismo, desvirilizado o espírito senhorial e dominante dos aristocratas. A origem desse processo, segundo Nietzsche, remontava à aos tempos da Palestina ocupada pela raça romana, raça de senhores. Os judeus, impotentes em poder livra-se deles, terminaram por aperfeiçoar a psicologia do ressentimento provocando uma inversão dos valores. Tudo aquilo que era "débil", "humilde", "medíocre", eles apresentaram como "bom", enquanto palavras tais como "nobreza', "honra", "valor", foram vistas como "mal". O resultado desse trabalho de sapador, feito por séculos de pregação cristã, foi o enfraquecimento das energias vivificantes da sociedade ocidental, especialmente das suas elites, na medida em que o "doentio moralismo ensinou o homem a envergonhar-se de todos os seus instintos".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">A rebelião dos escravos</span></strong><br /><br />A rebelião dos escravos na moral se deu devido a sua impotência para destruir com a escravidão (ou o seu avalista, o poder romano). A nova religião - o cristianismo - tornou-se o instrumento deles para canalizar o seu ódio impotente, um "ódio que tinha a contentar-se com uma vingança imaginária". O produto desse ressentimento foi fazer com que os escravos, a "raça inferior e baixa", tornassem tudo aquilo que fosse digno e nobre em algo pecaminoso. Transformaram a prostração e a pobreza em virtude, e a abjeta covardia de dar o outro lado da face em caso de agressão, num ato sublime de perdão.<br /><br />Via, portanto, o cristianismo como uma doença maligna que havia atacado o Império Romano, contribuindo para que ele sucumbisse vitimado por uma espécie de "febre das catacumbas". E, pior, "a mentalidade aristocrática foi minada até o mais profundo de si própria pela mentira da igualdade das almas; e se a crença na prerrogativa da maioria faz e fará revolução - é ao cristianismo que devemos sua difusão. São os juízos de valores cristãos que qualquer revolução vem transformar em sangue e crime. O cristianismo é uma insurreição do que rasteja contra o que tem elevação: O Evangelho dos pequenos tornado baixo".<br /><br /><span style="color:#ff6600;"><strong>A volta às energias aristocráticas</strong><br /></span><br />Portanto, os nossos conceitos de bem e de mal eram estratagemas dos derrotados, que fizeram a façanha de substituir os valores superiores da nobreza. Dessa forma retiraram dela, enternecendo-a com rogos de piedade, a seiva necessária para aplicar uma política de mão firme para conter esse moderno movimento neobárbaro, cuja carantonha havia emergido na Comuna de Paris de 1871. O socialismo não passava de um "cristianismo degenerado [...] o anarquista e o cristão vêm da mesma cepa [...]". Era preciso, pois, primeiro, expurgar de si esta moral de gente covarde. Retornar às fontes de energia aristocráticas, aplicar uma política da impiedade, onde somente o mais nobre e o mais viril fosse tomado em consideração.<br /><br />"Deus está morto!" Foi sua mais célebre proclamação. Como conseqüência, os homens deveriam buscar valores que transcendessem a moral convencional divulgada pelo cristianismo; um retorno "à ordem de castas, à ordem hierárquica [...] para a conservação da sociedade, para que sejam possíveis tipos mais elevados, tipos superiores - a desigualdade dos direitos é a condição necessária para que haja direitos". Concluiu dizendo: "Quais são aqueles que mais odeio no meio da canalha dos nossos dias? A canalha socialista, os apóstolos [...] mirando o instinto, o prazer, o contentamento do trabalhador no seu pequeno mundo - que o tornam invejoso, que lhe ensinam a vingança [...] a injustiça nunca reside na desigualdade dos direitos, ela está na reivindicação de direitos iguais".<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Nietzsche e a História</span></strong><br /><br />Nietzsche rompeu também com a relação entre a Filosofia e a História que havia sido estabelecida por Hegel, entendida esta última como uma crônica da racionalidade. Considerava que "o excesso de história" parecia "hostil e perigoso à vida", limitador da ação humana, inibindo-a. Devia-se ousar, avançar perigosamente para o ilimitado, porque a racionalização histórica levava o homem a "perder-se ou destruir seu instinto fazendo com que ele não ouse soltar o freio do 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos. O indivíduo torna-se então timorato e hesitante e perde a confiança em si..." terminando por fazer com que "a extirpação dos instintos pela história transforma os homens em outras tantas sombras e abstrações."<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Instinto contra a Razão</span></strong><br /><br />Nietzsche recolocou claramente o confronto outrora posto pelos românticos quando opunham os instintos - geralmente entendidos como uma manifestação da pureza e autenticidade humana - à razão, símbolo do utilitarismo cinzento e materialista.<br /><br />Opunha-se, como conseqüência, à idéia de que os acontecimentos históricos ensinavam os homens a não repeti-los, defendendo a teoria do eterno retorno, de remota inspiração na filosofia pitagórica e na física estóica, que compreendia a aceitação de periódicas destruições do mundo pelo fogo e seu ressurgimento. Desta forma, não só tudo poderia acontecer novamente como tudo poderia ser tentado outra vez.<br /><br /><strong><span style="color:#ff6600;">Em busca do super-homem</span></strong><br /><br />A idéia da necessidade da formação de uma nova elite - não contaminada pelo cristianismo e pelo liberalismo - e que ao mesmo tempo os transcendesse, acometeu Nietzsche desde muito cedo. Pode-se dizer que já pensava assim nos seus tempo do internato em Pforta. Já naquele tempo mostrou-se obcecado pela formação de uma seleta falange intelectual responsável pela transmutação de todos os valores, cuja obrigação e dever maior era a proteção de uma cultura superior ameaçada pela vulgaridade democrática.</div><div align="justify"> </div><div align="left"><span style="color:#ff6600;"><blockquote><div align="left"><span style="font-family:times new roman;color:#ff6600;">[</span><a href="http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento.htm"><span style="font-family:times new roman;color:#ff6600;">http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/nietzsche_pensamento.htm</span></a><span style="font-family:times new roman;color:#ff6600;">]</span></div></blockquote></span></div>JOSÉ VANIR DANIELhttp://www.blogger.com/profile/15120254867792518036noreply@blogger.com0