sábado, 15 de dezembro de 2007

A MORTE DE DEUS

O século XX foi o século da morte de Deus. Não só a ciência desprendeu-se definitivamente de qualquer apelo ao sobrenatural, como a maioria das constituições políticas dos novos regimes que surgiram afirmaram sua posição secular e agnóstica, separando-se das crenças. Chegou-se até ao radicalismo soviético que pronunciou-se como um Estado ateu. Se bem que a religião ainda constitui um poderoso fator de mobilização das massas e um, até agora, insubstituível apoio ético e moral, deve-se reconhecer que as elites modernas deram as costas a Deus. Mas esse gigante da religião, da teologia e da imaginação prodigiosa dos homens não morreu de uma vez só. Foi morto aos poucos ao longo do século XIX, de Laplace a Nietzsche.

Deus, uma hipótese descartável

Para Laplace, Deus é uma hipótese desnecessária. Ao enviar a Napoleão Bonaparte uma cópia do seu trabalho Méchanique céleste (A Mecânica Celeste, 5 vols., 1799-1825), o matemático Laplace, quando questionado pelo imperador sobre o papel de Deus na criação, respondeu que "Je n'avais pas besoin de cette hypothèse-là", que ele não necessitara da hipótese da existência de Deus para edificar a sua teoria do sistema solar. Com isso, com tal declaração arrogante, que fez o gosto e deliciou Napoleão, aquele expoente maior da física do Iluminismo rompia definitivamente com os elos dos seus predecessores Galileu e Newton, que ainda ligaram o Todo-Poderoso à formação do cosmo e à sua preservação.

Um Cristo humano

Se, no século XVIII, a Revolução de 1789 e a moderna ciência francesa davam início ao banimento de Deus, na Alemanha a pregação pelo afastamento do Todo-Poderoso das coisas do mundo se fez pela verve da filosofia e, pasme-se, pela própria teologia. Kant, com a sua doutrina agnóstica, que afastou as coisas da fé de qualquer provável entendimento racional (fé e razão atuam em esferas distintas, inconciliáveis), abriu caminho para que a geração seguinte de cientistas e pensadores passassem à crítica direta da religião. Sintoma disso foi a humanização crescente da figura de Jesus, como deu-se na obra de David F. Strauss, um teólogo. No seu Das Leben Jesu (A Vida de Jesus, 2 vol., 1835-36), identificou a vida de Cristo com a teoria do mito, entendendo o Evangelho como algo historicamente datado, afastando qualquer elemento sobrenatural dela. Linha que foi seguida na França pela monumental obra crítica de Ernst Renan, que a partir da Vie de Jésus (A Vida de Jesus, de 1863), que se estendeu por dezessete anos, até 1880 quando a encerrou com Marc Aurèle et la fin du monde antique (Marco Aurélio e o fim do mundo antigo), apresentando a mais completa interpretação até então concebida da história do Cristianismo na ótica do positivismo.

Deus é alienação

Para Feuerbach, Deus é alienação. O passo seguinte ao do doutor Strauss, ainda na Alemanha, foi dado em 1841 por Ludwig Feuerbach com a publicação do Das Wesen des Christentums (A essência do cristianismo), onde assegurou ser Deus uma projeção dos desejos de perfeição do homem. Vivendo em meio a infelicidade e na insegurança do sentimento de morte, os humanos idealizavam um reino perfeito nos céus, onde serão eternamente felizes e imortais. Era a alienação do homem que criara a crença no Ser Supremo, sentindo-se depois oprimido por ele. O mesmo fenômeno diria Marx (outro "matador de Deus"), engendrara a sociedade capitalista moderna, onde o Capital manipula os burgueses e oprime o proletariado.

5 comentários:

Jânio Lima disse...

Acho que tem alguma coisa de sobrenatural em mim venho acompanhando os escritos de Nietszche a muito tempo acho que tinha 18 anos quando li O ANTICRISTO e depois disso não parei mais de pesquisar a vida desse filosofo genial. E para me deixar bastante satisfeito estou lendo QUANDO NIETSZCHE CHOROU extremamente inteligente encontro seu blog que é um relato importantissimo da vida desse filosofo que foi realmente um campo de batalha meus parabens pelo blog.

Unknown disse...

Isso tudo é falta de fé, como alguém como ele pode dizer que Deus esta morto? Só porque ele não acredita não significa que nós também não acreditemos, não significa que matamos Deus, assim como ele fez. Esses filósofos acham que sabem das coisas mas o que eles sabem, na verdade é enganar os idiotas que supostamente acreditam em toda merda que eles falam, escrevem e pensam.

Unknown disse...

Muito pelo contrário, Niet não quer acabar com a fé de ninguém. E em nenhum momento Niet diz não acreditar em Deus! E para quem não está acostumado a leitura do Niet é difícil. Mas por favor querida Sabrina Steffan, faça o favor de ler e estudar para depois dizer que entendeu algo. Pois a única pessoa idiota é aquela que acredita em verdades absolutas!
E nosso querido Nietzsche requer bastante estudo para decifrá-lo, portanto não é para idiotas, talvez, loucos, rs, mas por favor nunca mais reduza sua opinião apenas ao título de um texto ou notas de rodapé!
Parabéns pelo Blog!!!

Prof. Esp. Humberto P. Brito disse...

Graças a Deus conheci as obras de Nietzsche.

Heron Passos disse...

A própria postagem é errônea com relação à interpretação da famosa frase de Nietzsche: “Deus está morto”. Pois saibam que essa alegoria é sabidamente provocativa, para chamar a atenção para outra coisa, meus amigos. Já que se deus existe, este não pode morrer, uma vez que o principal atributo de um deus é a eternidade, é não morrer; e se deus não existe, também não é possível morrer, porque eu não sei se você sabia uma condição para morrer é ter existido. Ele se refere na verdade, à estrutura religiosa do pensamento que trata das idealidades, o que é muito maior do que a religiosidade em si.