sábado, 15 de dezembro de 2007

NIETZSCHE E A DECADÊNCIA

Nietzsche, morto em 1900, nunca sentiu nenhuma simpatia pela democracia. Ao contrário, considerava-a um regime cuja presença em qualquer país já prenunciava uma irreparável decadência. Como sintoma disso, da decomposição dos valores superiores que fizeram a glória da cultura ocidental, ele apontou o verdadeiro culto, que na moderna sociedade - envenenada pelo cristianismo e pelo liberalismo dos medíocres - presta aos fracos, aos fracassados e aos insanos. A compaixão para com o que é débil e enfermo pareceu-lhe o sinal mais agudo da decomposição de uma cultura que outrora fora superior.

A vontade de poder

Foi Elizabeth Föster-Nietzsche, a irmã do pensador, tutora do espólio dele conservado no Nietzsche-Archiv em Weimar, quem organizou e deu a forma final, em 1901, um ano depois da morte do pensador, ao volume do Der Wille zur Macht, a Vontade de Poder. Nada mais era do que uma enorme coleção de aforismos, bem mais de 600, alguns alcançando a medida de uma página, que ele tentou distribuir em quatro livros, com um conjunto de escritos um tanto desconexos que ele decidira juntar num livro só. Porém o definitivo acesso de demência que o acometeu em Turim, em 1889, impediu-o disso. O livro pode perfeitamente ser considerado como o testamento político e filosófico de Nietzsche (se bem que a seleção que ela fez foi muito criticada pelos especialistas e pelos críticos e outros admiradores de Nietzsche) e igualmente a suma derradeira de tudo o que ele escrevera até então. É de alguns dos seus aforismos, especialmente o de número 389, e de alguns mais, que extraiu-se o que se segue e que ele chamou de "a corrente descendente".

A mudança do centro da gravidade

Nietzsche, como ideólogo contra-revolucionário, responsabilizava o clima geral de decadência, que ele sentiu generalizar-se na sua época, aos eventos da revolução francesa de 1789. Momento em que, segundo ele, a equivocada idéia de igualdade estabeleceu direitos comuns a todos, deixando-se a Europa levar pela "superstição da igualdade entre os homens". A era moderna, por conseguinte, nascia sob o signo de um grande equivoco, responsável único pelas enormes modificações no universo social e cultural. Para ele, a decadência do mundo moderno facilmente se verificava pelo fato do centro da gravitação ter-se deslocado da personalidade aristocrática (*) - do homem de exceção, ser extraordinário e raro - , para uma órbita plebéia, concentrada no tipo comum, ordinário, dominada pela alma do rebanho, onde reinava o medíocre, o filisteu, o fracote, o doente. Logo, a ascensão das massas, tão celebrada e enaltecida pelos progressistas de todas as tendências e pelos políticos liberais-radicais do século XIX, não passava para ele de um sintoma da profunda crise geral da civilização européia.

(*) Aristocrático aqui entendido no sentido que Aristóteles deu a esta palavra: o melhor, não necessariamente o de descendência nobre, o de sangue azul.

Um comentário:

Jânio Lima disse...

Jose vanir genial seu blog, estarei presente sempre que possivel já que em termos de filosofia somos parecidos. Abraços